Investir no imobiliário

Caso um banco precise de dinheiro do Estado, antes de entrada de capital público tem de haver o resgate interno. O objetivo é que sejam os envolvidos na instituição a suportar primeiro as perdas antes de estas chegarem aos contribuintes.Os clientes com contas bancárias acima de 100 mil euros podem ser chamados a participar no resgate a bancos em dificuldades, com a entrada em vigor das novas regras da resolução bancária.Em caso de uso dos depósitos dos clientes, a captação respeitará uma ordem em que estes virão em último lugar. Prioritários na entrada na resolução interna serão os acionistas, detentores de dívida subordinada, de dívida sénior e os depósitos das grandes empresas superiores a 100 mil euros. Por fim, serão chamados os depósitos não cobertos pelo Fundo de Garantia (valor acima de 100 mil euros) pertencentes a micro, pequenas e médias empresas e aos particulares. Assim, são chamados a participar nas perdas primeiro os accionistas, seguindo-se os obrigacionistas e podendo ainda chegar aos grandes depositantes, transformando as obrigações e parte dos depósitos em capital.A crise bancária tornou necessária salvaguarda dos contribuintes. A discussão da salvaguarda do dinheiro dos contribuintes começou a ganhar força em 2008, após a crise que se iniciou com a queda do Lehman Brothers e com a consequente decisão de injetar vários milhares de milhões de dólares do tesouro norte-americano em bancos.Em Portugal também em 2008, o Governo decidiu-se pela nacionalização do BPN originando perdas ainda não determinadas aos contribuintes portugueses. Se a diretiva que entrou em vigor a 1 de janeiro já existisse, a alternativa imediata à falência do banco não seria a injeção de dinheiro público, mas sim a resolução, que inclui, no último lugar da cadeia contributiva, os depositantes com mais de 100 mil euros depositados na instituição em causa. Segundo a diretiva da resolução comunitária “salvo disposição expressa em contrário na presente diretiva, os instrumentos de resolução deverão ser aplicados antes da injeção de capitais públicos ou da concessão de apoio financeiro público extraordinário”.A solução encontrada rapidamente no final de 2015 para o Banif esteve relacionado com a entrada em vigor desta nova legislação europeia, precisamente para evitar que obrigacionistas e grandes depositantes tivessem de pagar parte de uma eventual resolução.Toda a turbulência existente no setor bancário pode beneficiar o investimento imobiliário. Uma consequência indireta da implementação desta diretiva pode vir a ser a transferência de capital de depósitos bancários acima dos 100 mil euros para o investimento no imobiliário, que cada vez é mais vista como um investimento seguro.

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