Investir hoje nas residências sénior do futuro

No entanto, com a projeção de que 12,7% da população terá mais de 80 anos até 2050 — quase o dobro da percentagem de 2024 —, é inegável que o país terá de reforçar significativamente a sua capacidade de resposta. Para tal, será inevitável um maior envolvimento do setor privado, em articulação com os setores social e estatal, de modo a alcançar uma resposta mais adequada a este segmento da população e aos seus cuidadores.Atualmente, os operadores privados representam apenas 25% das camas, com nomes como Residências Montepio, Emeis, DomusVi e Naturidade a controlarem cerca de 10% da oferta total. Apesar de modestos em escala, estes operadores introduzem um modelo de gestão profissionalizada e, muitas vezes, infraestruturas mais modernas e serviços diferenciadores. Mas será suficiente?O investimento no setor da saúde em Portugal continua limitado. Em 2024, as yields estabilizaram entre os 5% e os 5,75% em toda a Europa e, embora tenham ocorrido algumas transações relevantes — como a aquisição de três ativos pela Unik Capital Solutions por €70 milhões, uma unidade de saúde para idosos em Coimbra pela Euryale por €4 milhões, e um lar sénior na Marinha Grande pela Pierval Santé pelo mesmo montante —, o volume total de investimento permanece aquém das necessidades. A falta de produtos de investimento estruturados é apontada como uma das principais barreiras, afastando o capital institucional de um setor que, paradoxalmente, representa uma das maiores oportunidades de crescimento a longo prazo.É aqui que se levanta uma questão crucial: como transformar uma necessidade social urgente numa oportunidade sustentável de investimento? A resposta passa por qualidade e inovação. Não se trata apenas de construir mais camas, mas de criar soluções com verdadeiro impacto social e retorno financeiro robusto.A nível europeu, o mercado já começa a dar sinais de maturação. O volume de investimento em residências sénior atingiu os €6 mil milhões no ano passado, apesar de uma ligeira retração na Europa Continental. Investidores institucionais estão a reposicionar-se, cada vez mais atentos a critérios ESG (ambientais, sociais e de governação), o que poderá beneficiar Portugal se souber posicionar-se com projetos sustentáveis e de elevada qualidade.O futuro das residências sénior passará por edifícios sustentáveis, energeticamente eficientes, acessíveis e integrados com a comunidade. Projetos que cumpram estas premissas não só respondem às expetativas dos futuros residentes, como também se alinham com as novas exigências dos investidores.Portugal tem argumentos únicos para se posicionar neste mercado com vantagem: clima ameno, qualidade de vida, custos operacionais competitivos e um sistema de saúde robusto. Mas, para converter estas vantagens em projetos concretos, é essencial mobilizar investimento privado qualificado. Os desafios, naturalmente, não desaparecem. Os custos de construção continuam elevados e o acesso ao financiamento permanece exigente. Mas há sinais de viragem, nomeadamente a esperada flexibilização da política monetária e a abertura a parcerias público-privadas podem desbloquear novas oportunidades.Assim, a pergunta não é se o mercado português de residências sénior vai crescer, mas sim como e com que qualidade. Se quisermos garantir que os nossos idosos vivem os últimos anos com dignidade e conforto, precisamos de mais do que estruturas assistenciais: precisamos de visão estratégica, investimento consciente e uma colaboração genuína entre setor público, social e privado.O setor das residências sénior em Portugal está pronto para crescer. A oportunidade é clara: responder a uma necessidade social urgente enquanto se investe num ativo resiliente e de longo prazo. Quem souber interpretar os sinais do mercado, apostar na qualidade e investir com visão estratégica, estará a garantir um lugar de destaque num dos segmentos mais promissores da próxima década.

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