CONVERSAS SOBRE TURISMO COM VISTA PARA O MARQUÊS

Após um exalçamento dos principais números do turismo, cujo crescimento e potencial parecem ser de uma opinião positiva generalizada (grande presença informal do INE no Congresso!), vários foram os assuntos que, com mais ou menos tempo de discurso, foram tomando forma e enchendo o Pavilhão Carlos Lopes pela sua premência e necessidade de debate como o (potencial...? Eventual!) novo aeroporto do Montijo, voos de ligação a Faro durante as shoulder seasons (recentemente o Expresso relata a criação de mais 210 mil lugares de avião na notícia desta semana), as taxas turísticas e a situação do Reino Unido bastante eminente e impactante como destino emissor. Os momentos entre pausas foram sendo preenchidos com as novas promoções do produto turístico de Portugal, entre outros e evidenciando-se por um conceito audacioso, a campanha “Portugal. The Summer” (vídeos inspirados na música Live in the Moment da banda norte americana Portugal. The Man que mostram o nosso país através de bailado, e ainda mais bailado, por diversos locais turísticos). Outros momentos menos lúdicos, mas com igual interesse, foram de facto as intervenções do Estado, dos hoteleiros e empresários que preencheram o palco. O Governo anunciou a criação de um novo programa financeiro para incentivar projetos turísticos (130 milhões de euros no fundo “Capitalizar Turismo” como relatou o Público na altura do anúncio), os hoteleiros mostraram premente a necessidade de conforto sobre a utilização das taxas turísticas por parte dos municípios, assim como perspetivas positivas a curto/médio-prazo da performance turística do País. De momentos empreendedores, houve tempo para conversas sobre alguns conceitos inovadores como foi exemplo a Vision-box com tecnologia de ponta utilizada para otimizar o fluxo nos aeroportos (talvez uma realidade a ocorrer muito em breve no sector hoteleiro, eventualmente criando valor pela maior eficiência nos processos e não obrigatoriamente resultando na diminuição de recursos humanos). Seguindo a temática de recursos humanos, outro assunto recorrente ao longo dos anos, e mencionado também no Congresso, é a necessidade de profissionais no setor e a qualificação da mão-de-obra. Conforme aludido, o setor elogiado pelo seu potencial ainda carece de um bom posicionamento no mercado de trabalho, seja pelos salários oferecidos, pela atratividade dos postos de trabalho ou planos de carreira. Apesar do contínuo debate sobre como atrair estes novos profissionais, posicionar o setor do turismo no radar das maiores instituições portuguesas (abrangem-se aqui tanto universidades que excelem nas ciências económicas como sociais e escolas profissionais de turismo) e no topo de lista de empregadores na mente dos estudantes, é de refletir a pouca presença de jovens universitários ou recém-licenciados a participar neste tipo de eventos. O balanço entre representantes dos poderes governamentais, profissionais da área e jovens deverá ter-se em conta para que a essência de qualquer evento não se torne num momento de pitch e oportunidade para promoção individual. Todavia não se deve descurar o potencial de networking e do fluxo de ideias e de visões entre partes (feiras de emprego nas universidades são interessantes sim, mas conversas em contexto específico potenciam uma abordagem ao mercado de trabalho mais seletiva e eficiente). E, posto estes assuntos na mesa, o que retirar para a esfera do imobiliário? A presença de grandes casas hoteleiras no evento mostra a pujança do setor e a maturidade de grupos hoteleiros que apesar das ondas macro e microeconómicas e sociais que vamos sentido ao longo dos anos, se mantêm operações sustentáveis e políticas expansionistas, ainda que mais ou menos conservadoras, dentro e fora do país. Enquanto a hotelaria tradicional acompanha o mercado turístico com novos projetos ou melhoramentos no produto e serviço, outros modelos de alojamento começam a ser explorados em Portugal. Muito na moda estão os conceitos de Coworking, Coliving e Cosharing (a Corevolution, que essencialmente sempre foi existindo em formatos não profissionais, mas agora exponenciado pela awareness e exploração da temática, também explorado pela Cushman & Wakefield na conferência de Future Of Real Estate de 2018). Temos mercado para conceitos inovadores, em que a propriedade física não distingue o hóspede do transeunte que passa na rua e é atraído por um restaurante trendy no interior ou por zonas comuns apelativas à contemplação da arte ou tempo de descanso em pequenas praças e jardins do alojamento. Em que o cliente é um “convidado” e, portanto, parte integrante do ambiente e atmosfera do conceito. E neste sentido existe uma maior liberdade para encontrar soluções para estas entidades em termos de produto imobiliário, uma flexibilidade e ajustamento de conceitos hoteleiros ao turista e às suas motivações. O desafio seguinte é construir modelos de negócio sustentáveis, nesta realidade, considerando as nossas cidades, a nossa capacidade de receber e os portugueses (pois não deixamos de ser nós que mantemos a imagem do país a longo-prazo, que recebemos os turistas nas lojas e restaurantes, que os ajudamos a encontrar o elétrico para Belém no Cais do Sodré antes de correremos para o autocarro, que lhes ensinamos o dialeto mais divertido da nossa língua sem eles saberem). Assim, aos profissionais da área resta agora o próximo ano em aberto, uma excelente ocasião para se ir preparando a mesa de discussão até ao 31º Congresso da Associação de Hotelaria (esperemos que, se o mesmo decorrer na Madeira, os sensores de vento no aeroporto se encontrem favoráveis às centenas de congressistas em rumo à ilha!) Boas leituras.

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