Um ano "mais ou menos"

A sustentar esta análise, e ainda que nos faltem os dados do último trimestre de 2020, que será muito provavelmente mais fraco do que o fortíssimo último trimestre de 2019 (no qual se venderam muito perto de 50.000 habitações em Portugal, o maior número desde que há registo de dados), a resiliência demonstrada pelo mercado em 2020. Dos três trimestres de 2020 cujos dados conhecemos, o primeiro e o terceiro foram fabulosos. Menos 10.000 casas vendidas do que em igual período de 2019, mas o mesmo valor, graças a um ligeiro aumento dos preços médios. Com a pandemia pelo meio.Sustenta-se, assim, a ideia de que 2021 se possa aguentar como um ano "mais ou menos". O que, sendo assim, não é nada mau.Vou defendendo uma teoria pouco técnica e muito pouco sexy: para a esmagadora maioria dos compradores e vendedores, para quem um imóvel é uma habitação, se os preços sobem ou descem é relativamente indiferente. Vendo a minha casa mais cara, comprarei a próxima mais cara. Vendo mais barato, compro mais barato. Maior preocupação é o montante em dívida e a capacidade de cumprir com as amortizações programadas.Em plena pandemia, cheios de esperança, mas com pouco mais, as previsões são exercícios académicos.O que é real é que, uma vez mais, milhares de profissionais se veem impossibilitados de cumprir a sua missão: apresentar compradores a vendedores, concretizar os seus projetos e ser remunerados por isso. Sem que o Estado continue a fazer a parte que lhe compete. Ajustar-se aos tempos, modernizar-se, aligeirar-se.Continuamos com uma legislação que exige que um contrato de mediação imobiliária seja assinado de forma manuscrita ou com recurso a uma assinatura qualificada. As empresas de mediação conseguem já desmaterializar todo o processo, mas, para assinar um contrato com um cliente, ou imprimem e assinam ou recorrem a um leitor de cartões de cidadão. E continuamos com um regulador sem vontade de mudar.

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