Adeus 2023, olá 2024

Do ponto de vista do investimento imobiliário, os volumes registados em Portugal não fugiram às quebras sentidas no espaço Europeu, que se situam em média nos 50%, como resultado da pressão causada pela alteração de contexto decorrente da inflação, subida das taxas de juro e correção (em alta) das rendibilidades exigidas pelos investidores. A rapidez de ajustamento dos preços noutros países prejudicou o investimento em Portugal onde, como é habitual, as correções em baixa tardam em fazer-se sentir.Apesar de penalizados no seu Plano de Negócios pelo acréscimo das taxas de juro, os ativos de promoção são aqueles que se têm revelado mais líquidos dado que ainda permitem oferecer rendibilidades interessantes que vão de encontro às expectativas dos investidores, quer medidas em TIR (>15%) quer em múltiplos de capital (>1,5).O mercado de escritórios tem apresentado características díspares. A esperada diminuição dos níveis de ocupação relativamente a 2022, no qual foram incorretamente registadas ocupações de 2023 e 2024 penalizando os níveis de ocupação destes anos, não tem tido reflexo na diminuição dos valores de arrendamento, registando-se aumentos das rendas prime em edifícios cujos níveis de qualidade se situam acima da média, num mercado onde a oferta de ativos com qualidade é escassa.Idêntica leitura pode ser extrapolada para o mercado Industrial e Logístico.O mercado de Retalho tem vindo a registar uma notável dinâmica fruto da substituição de conceitos ultrapassados por outros mais adequados à alteração do perfil da procura, quer do ponto de vista físico (mais compras virtuais) quer das necessidades dos clientes, onde os conceitos de baixo custo têm registado uma dinâmica e taxa de penetração elevadas.O mercado Turístico, talvez um dos mais vibrantes do momento, a par do Industrial & Logístico, tem vindo a recuperar os níveis de atividade pré-covid, sendo que o REVPAR alcançado já está acima dos anteriormente atingidos, o que valoriza o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido neste mercado pelos seus profissionais em termos de acréscimo de valor.Por último, o tão comentado mercado Residencial, que continua a respirar boa saúde fruto do desequilíbrio entre a oferta e a procura, apesar de se notar já um decréscimo do número de transações, sendo gritante a incapacidade de aumentar o seu espectro de oferta para segmentos com maiores restrições orçamentais tanto a níveis de compra como de arrendamento.E começamos por aqui para abordar os desafios que se colocam na abordagem ao novo ano: a criação de condições para se ultrapassar a crise habitacional, que só poderá passarpor um acréscimo de oferta. Todos os que estão no mercado conhecem as soluções para o fazer. No entanto estas têm vindo a ser travadas pela falta de proatividade de quem tem a obrigação de aprovar os projetos como de resolver o problema da habitação social (esfera pública) ou de criar as condições de atratividade para que a iniciativa privada atue em sua substituição. O problema quantitativo que existe no mercado não se resolve com parcas panaceias nem com medidas que se parecem destinar mais a um eleitorado do que à resolução das questões que as motivaram.Por último, destacaria ainda que as constantes alterações de domínio legislativo e fiscal que se verificam no nosso país, contribuem para gerar um sentimento de incerteza nos investidores, diminuindo a celeridade dos processos de tomada de decisão.Como tem acontecido nos últimos anos, para o ano aqui estaremos a falar novamente neste desafio.Para 2024 as projeções indicam um crescimento na Zona Euro superior a 1%, uma perspetiva ligeiramente mais otimista face à deste ano. Neste contexto, com a incerteza que persiste sobre o futuro das taxas de juro e com as tensões geradas pelos conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente, espera-se que o primeiro semestre de 2024 seja marcado pela prudência e por um processo de tomada de decisão ponderada por parte dos investidores. Será que no próximo ano, neste contexto, vamos assistir a uma recuperação dos níveis de investimento ou iremos ver mantido o marasmo de 2023?Por último, ausentes do vibrante contexto de crescimento que tivemos na última década em Portugal, afigura-se-me desafiante o reposicionamento dos edifícios (latu sensu, sem um segmento específico) dos pontos de vista da sustentabilidade e social. Os importantes passos que têm vindo a ser dados e a mobilização dos stakeholders imobiliários não podem ser desacelerados na perspetiva de um contexto menos vibrante do que aquele que assistimos na última década.Portugal continua a beneficiar de múltiplos fatores de atratividade que devem ser potenciados através da alavancagem da captação e fixação do investimento estrangeiro, que importa sublinhar tem sido responsável por mais de 85% do investimento imobiliário no nosso País na última década.

CONTEÚDO EXCLUSIVO PARA ASSINANTES