O 23 de dezembro

Há uns anos o assunto nem seria tema. Mas hoje o digital representa uma fatia cada vez maior do total das vendas do comércio – um dos efeitos secundários do COVID. E, em rigor, para a maioria dos retalhistas, a medida do governo terá um efeito reduzido. Quase 80% dos lojistas de centros comerciais têm presença online e estão preparados para avançar com os seus saldos e promoções através destes canais. E mesmo que o governo quisesse impedir esta situação de concorrência entre canais dificilmente o conseguiria fazer. O mercado é global. Também por isso o dia 23 de dezembro passa a ter um importante valor simbólico para o futuro do setor. Por três razões distintas.Primeira razão. Porque nos lembra que é urgente a regulamentação do comércio eletrónico. Não só por causa da concorrência entre canais (físico e digital) mas também por causa da concorrência internacional. Uma regulamentação que tem de ser obrigatoriamente europeia. Uma regulamentação, também fiscal, que permita uma concorrência em igualdade de circunstâncias, independentemente do nosso país de origem.Segunda razão. Porque explica que o futuro dos estabelecimentos “físicos” não é concorrer com os canais digitais, mas agregar e construir soluções integradas para o consumidor. É a omnicanalidade, onde o espaço “físico” é um misto de showroom, base logística de proximidade e também uma loja. Isto significa investimento, mas significa, sobretudo, uma mudança de mentalidade que seja capaz de acompanhar a mudança que já aconteceu nos hábitos de consumo dos portugueses.Terceira razão. Porque ficou claro que o “futuro do retalho” já aconteceu. Foi no dia 23 de dezembro de 2021.

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