Esta foi uma das principais conclusões do último Pequeno Almoço VI / Cushman & Wakefield, que decorreu na semana passada no InterContinental Lisbon, e que reuniu vários dos principais atores do mercado do retalho em Portugal, que se centraram nos principais desafios que o retalho “clássico” enfrenta, numa altura em que «o retalho é cada vez mais experiencial», apontou Eric van Leuven, da C&W. «A discussão do que será o retalho mantém-se, sobretudo sobre qual será o papel da presença física, quando o online tem uma influência gigante sobre a mesma».
Se nos Estados Unidos começam a aparecer muitos “dead malls”, não é certo que o fenómeno tenha a mesma intensidade na Europa, onde o mercado é mais maduro e com menos excessos de oferta. Mas, com ou sem online, só os bons centros sobreviverão em ambos os mercados. E o certo é que «vemos que os centros têm este ano vendas a subir 5% no primeiro semestre, continuam a atrair lojistas, e o comércio de rua está muito pujante. Neste período, abriram 100 novas lojas de rua nas principais ruas de Lisboa e Porto. Mas há desafios muito óbvios», nota.
Para a Sonae Sierra, representada no encontro por Ricardo Rosa, «no mercado europeu e particularmente no português, o centro comercial continuará a ser central na vida das pessoas. Mas temos de adaptar o mix e a experiência do consumidor tendo em vista o omnicanal. É um processo de adaptação que já iniciámos», partilhou. Acredita que, cada vez mais, «os shoppings devem criar serviços que apoiem os processos logísticos de e-commerce, nomeadamente a entrega e a devolução», tornando-se pick up points.
Já a Multi «continua a acreditar muito no retalho físico», mas Teresa Moreira admite que «está tudo a mudar, e o modelo de negócio vai mudar num esforço conjunto entre proprietários, operadores e gestores. Vamos viver cada vez mais em “ecossistemas”, e temos de estar muito abertos à mudança».
Da mesma opinião é Renato Carvalho, do Grupo Multifood, para quem «o que falta para mudar os centros comerciais é modelos de contrato diferentes entre os próprios operadores, é difícil conseguir contratos de 6 anos», exemplifica, numa altura em que «o e-commerce deve ser complementar e não alternativo à loja física para que não deixemos de ter clientes nos nossos restaurantes». E acredita que «a restauração vai ocupar progressivamente mais área dos outros negócios, tanto na rua como nos shoppings».
Shoppings têm a vantagem da gestão, rua tem vantagem do exterior
Centros comerciais ou comércio de rua têm as suas vantagens e desvantagens, mas a importância de um bom mix comercial é igualmente importante em ambos os casos. Para Catarina Lopes, da Eastbanc, proprietária de espaços comerciais no Príncipe Real como a Embaixada ou o EntreTanto, os centros comerciais têm a vantagem da gestão de todo o mix comercial: «na rua não temos o luxo de poder planear porque não é tudo nosso, e os centros comerciais podem aproveitar isso», o que inclui a limpeza, os resíduos, lojistas e todos os serviços inerentes.
Mas há outra vantagem na rua: «as pessoas gostam de variar do digital e de ir à rua passear. Sempre pensámos em levar as pessoas a passear no Príncipe Real, quisemos construir um destino de turismo interno, ainda antes de haver turismo, e foi uma zona muito puxada pela moda. Proporcionar um espaço para isso pode ser o primeiro desafio ainda antes das vendas».
E reforça a importância do mix em ambos os casos: «a variedade é muito importante, não se pode ter demais de uma área, o nosso desafio é oferecer o mínimo de conveniência e conforto». E exemplifica que «quando começa a haver demasiada restauração em linha de rua, desaparecem as lojas».
Big data ainda está por explorar
O novo “ouro” do retalho 4.0 é a informação, nomeadamente a big data, que ainda não é explorada a 100% pelos operadores e pelos centros. Mas já existem várias possibilidades que estão a ser analisadas pelos retalhistas, por forma a melhor compreenderem os visitantes, os compradores e os seus hábitos.
Teresa Moreira acredita que «o grande desafio da informação é perceber qual é relevante e o que se faz com ela». Para já, é possível localizar os visitantes através da ligação de wifi do telemóvel ou mesmo através das operadoras, que podem fornecer estes dados, por exemplo. «Há formas de sabermos muita coisa e tecnologias emergentes que permitem saber mais informação, existe a possibilidade de construir informação aprovada pelos seus donos no futuro, e utilizá-la entregando valor às duas partes», diz Ricardo Rosa, que atesta que a Sonae Sierra «tem investido na construção de alguns destes sistemas que nos permitam olhar para a informação de uma forma bem estruturada».