Centros comerciais: “ficar parado não é uma hipótese”

Centros comerciais: “ficar parado não é uma hipótese”

Esta foi uma das principais conclusões do VI Congresso da APCC, que decorreu esta semana em Lisboa sob o mote “O Mundo em Mudança”, e que se debruçou no futuro do setor, contando com o input de vários oradores especialistas.

Imóveis com uso misto, conveniência e proximidade, inovação, incorporação eficaz da tecnologia e foco na experiência do consumidor são alguns chavões que vão ditar os próximos anos nesta indústria.

«Temos alguns grandes desafios nesta fase de experimentação», começa por afirmar Fernando Guedes de Oliveira, CEO da Sonae Sierra numa das mesas redondas de debate do evento. «Nos próximos anos vai aumentar exponencialmente o contacto entre o consumidor e os centros comerciais, vamos ter mais dados, e só com essa informação poderemos ser proativos em relação ao cliente. Isto vai ter um grande impacto na gestão do centro, na escolha dos lojistas, e também impacto financeiro», reconhecendo que o investimento na tecnologia e no digital «é muito mais caro que no tijolo». 

Por outro lado, acredita que «o centro comercial será um Marketplace e uma plataforma omnicanal. Temos todas as condições para isso, e ninguém melhor do que o shopping vai resolver o problema do “last mile”», antecipa. E não deixa de destacar que «o shopping do futuro vai ser “mixed use”, com hospitais, escritórios, residências, tudo o que for possível».

Francisco Cavaleiro Ferreira, Managing Director para Portugal e Espanha da Multi, avança que «a experiência e a parte emocional serão o nosso foco nos próximos 5 anos», admitindo que é difícil prever qual será o futuro dentro de uma década ou duas. «Qualquer avanço tecnológico que tinha consequências a 10 anos hoje poder ter a dois anos, temos de ir acompanhando â medida que as coisas vão acontecendo».

Luís Pires, Head of Territory Iberia da Klépierre, acredita que «estamos a aprender», e que «temos de partir do princípio de que a nossa realidade mudou. Devemos aproveitar este ambiente macroeconómico para transformarmos a nossa indústria e fazermos o que temos de fazer, é isso que nos vai permitir acabar com o estigma do “retail apocalypse”».

Fernando Muñoz de Oliveira, Administrador Executivo da Mundicenter, está convicto de que «demonstrámos enquanto indústria que temos capacidade para enfrentar essa incerteza, temos é de fazer bem o trabalho de casa. A nossa preocupação tem de ser com o conhecimento, e temos de atender a todos os tipos de cliente. Temos de trabalhar para continuar a responder efetivamente aos requisitos das pessoas, e mudar a cultura das nossas empresas».

«É a próxima geração que vai fazer dos centros comerciais um produto imobiliário competitivo», considera Mário Costa, diretor geral da Ceetrus Portugal. «E a batalha será ganha no metro quadrado físico com o que o digital não consegue oferecer. Temos todos de ser digitais, mas é aí que vai estar a diferenciação, na resposta a tudo o que tem a ver com a emoção e os sentidos».

 

Centros portugueses continuam no radar do investimento

Num painel da mesma tarde, Francisco Horta e Costa, Managing Director da CBRE, atestou que «sentimos o interesse por parte dos investidores internacionais no mercado português, e estamos envolvidos em algumas operações que se vão realizar em breve. Sabemos que o produto é bom, e os centros principais têm sempre mercado, e estariam vendidos 10 vezes amanhã», se fossem colocados à venda».

Eric van Leuven, Executive Partner da Cushman & Wakefield também concorda que «os centros portugueses sempre foram de altíssimo nível», e nota que «nos últimos anos foram os fundos oportunísticos que venderam mais shoppings, e quem comprou foram as companhias de seguros ou fundos institucionais, é um movimento muito natural e são do mercado», comenta.

Mas, para continuar a atrair o interesse, «ficar parado não é uma hipótese», acredita Francisco Horta e Costa, até porque «os investidores procuram atualmente tudo o que for “out of the box”. Vai ser fundamental ver isso acontecer nos centros comerciais».

Fernando Domínguez, Head of Real Estate Asset Management Iberia da DWS, braço imobiliário do Deutsche Bank, reconhece que esta «é uma indústria que está em constante mudança e adaptação. Temos de mudar todos os dias, é uma evolução contínua, e temos de nos preparar para não perder esse combóio».

Já as rendas e a avaliação dos ativos continuam a ser uma das maiores incógnitas, nomeadamente com a variável do ecommerce. «Rendas “one size fits all” já não vão funcionar», acredita Eric van Leuven.

 

Investidores terão de viver com a incerteza

«O fator essencial é a disrupção, logo incerteza. E as cautelas dos investidores não têm a ver com os fundamentais macroeconómicos, mas sim com essa questão», apontou Francisco Cavaleiro Ferreira.

Fernando Guedes de Oliveira atesta que «há um sentimento de desconfiança por parte dos investidores em relação ao retalho, muito alimentado pela situação do Reino Unido e dos EUA», mas considera que são questões contextuais, não tão relacionadas com o ecommerce, que acredita que «não é ameaçador na Ibéria».

Os responsáveis concordam que haver mais investimento estrangeiro no retalho português é inevitável, já que «não existe capital nacional com dimensão para investir», sustenta Fernando Muñoz de Oliveira.

 

 

Foto:  Irina Sedlar / APCC