A Century 21 Portugal apresentou, esta sexta-feira, a segunda edição do estudo “Acessibilidade à Habitação em Portugal”. Entre 2019 e 2022, a rede imobiliária atenta para a perda de poder de compra patente: neste período, os preços das casas subiram 38%, a passo que o rendimento disponível das famílias aumentou apenas 9%.
Em 15 das 18 capitais de distrito, a taxa de esforço é inferior a 40%, mesmo com projeções de 5% de subida das taxas de juro, revela a Century 21 Portugal, que evidencia uma deterioração no acesso à habitação entre 2019 e 2022. O rendimento líquido disponível das famílias varia, nas capitais de distrito, entre os 1973 euros em Lisboa e os 1.426 euros de Viana do Castelo, enquanto a média das capitais de distrito se situa nos 1.545 euros.
Para Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal, «as medidas macroprudenciais instauradas pelo Banco de Portugal obrigam os bancos a testarem a taxa de esforço das famílias com uma margem de segurança de mais 3% sobre as taxas de juro em vigor, para atribuição de crédito à habitação. Num contexto de taxas de juro negativas, esta era uma medida essencial. No entanto, no atual cenário de subida de taxas de juro, este teste continua a ser obrigatório e aumenta, consequentemente, a dificuldade para as famílias e jovens que pretendam acesso a financiamento».
De acordo com a rede imobiliária norte-americana, o rendimento médio disponível dos agregados familiares nacionais é muito inferior a outros países da União Europeia, por conta da elevada carga fiscal aplicada aos rendimentos. Todavia, a evolução dos rendimentos das famílias face a 2019 foi positiva, com crescimentos de entre 6% a 11%, em todas as cidades e com um ritmo muito idêntico.
Casa em Lisboa exige taxa de esforço de 67%
Conforme os resultados do estudo, em Lisboa, um empréstimo para a compra de casa exige uma taxa de esforço de 67%, a passo que no Porto de 50%. Em Faro, a taxa de esforço fixa-se nos 39%. Com a exceção das capitais e concelhos da AML, AMP e Algarve, nas restantes capitais de distrito este indicador é de 30% ou inferior. Assim sendo, o estudo conclui que a taxa de esforço em 15 das 18 capitais de distrito é inferior à recomendada.
A Century 21 revela também que, entre 2019 e 2022, a taxa de esforço associada à compra de habitação agravou-se em todas capitais de distrito, mas apenas em Faro e no Porto esse crescimento significou perda de acessibilidade à habitação, através de aquisição.
Na capital, a taxa de esforço também aumentou, mas este era um mercado já antes considerado inacessível face ao rendimento médio das famílias, recorda a rede imobiliária.
Valor para compra de uma casa de 90 metros quadrados
Nas capitais de distrito, o valor de um apartamento de 90 metros quadrados varia entre os 375.480 euros em Lisboa e os 59 040 euros na Guarda, a passo que a média nacional é de 152.159 euros. Em Lisboa e Porto, os imóveis com preços médios de 375.000€ e 250.000€, respetivamente, deixam a grande distância qualquer outra cidade, embora a região do Algarve apresente também alguns concelhos com preços acima dos 200.000 euros.
Ricardo Sousa enfatiza que «o mercado imobiliário e as necessidades de habitação não devem ser analisados isoladamente sem ter em consideração outras dimensões económicas e sociais, nomeadamente a evolução demográfica do País. A AML e o Algarve foram as únicas regiões onde se registou um aumento da população, de acordo com o Censos 2021. O desafio reside na concentração urbana nas áreas metropolitanas de Lisboa, Porto e no aumento de população residente no Algarve. Esta movimentação das famílias provoca um incremento da procura e uma maior pressão sobre uma oferta de habitação já insuficiente e pouco ajustada à classe média, nestas regiões».