No 3º trimestre de 2024, Portugal registava um volume de 5.000 milhões de euros de crédito malparado no seu sistema financeiro, cerca de 2,4% do total de créditos concedidos no país, no valor de 211.100 milhões de euros.
Estes números são do estudo “Keep na Eye on the NPL & REO Markets”, agora lançado pela Prime Yield, que analisa a evolução dos principais indicadores do crédito não performativo (NPL – Non-Performing Loans) em Portugal, Espanha, Grécia e Brasil, além de apresentar uma projeção da dinâmica de transações deste tipo de portfólios.
De acordo com o relatório, o stock de crédito em incumprimento apresenta uma redução de 10,7% face ao mesmo período de 2023, correspondente a uma redução de 600 milhões de euros. Em termos trimestrais, a redução é de 2,0%, o que significa que 100 dos 600 milhões de euros retirados do sistema ao longo do último ano foram reduzidos entre o 2º e 3º trimestre de 2024.
A Prime Yield confirma que Portugal continua na sua trajetória de redução do volume de NPL, contrariando a tendência predominante na Europa, onde o crédito em incumprimento está a aumentar há 6 trimestres consecutivos. No conjunto europeu, o volume de NPL chegou aos 376.000 milhões de euros no 3º trimestre de 2024, mais 3,7% que em igual período do ano anterior, e mais 0,7% que no 2º trimestre de 2024. Em termos absolutos, isso significa que no último ano o crédito em incumprimento na Europa aumentou em 13.300 milhões de euros, dos quais 2.600 milhões entre o 2º e o 3º trimestre de 2024.
Empresas reduzem malparado, mas incumprimento aumenta entre as famílias
Na Europa, o volume atual de NPL corresponde a 1,9% do total de crédito concedido. Este rácio agravou-se face ao período homólogo, quando era de 1,8%. Em Portugal, o mesmo rácio comprimiu, comparando-se os atuais 2,4% com os 2,8% do 3º trimestre de 2023. Ainda assim, o país mantém o peso do incumprimento sobre o total dos créditos superior à média europeia.
Segundo a Prime Yield, esta nova redução da carteira de NPL em Portugal deve-se sobretudo ao desempenho do setor das empresas, que concentra 54% do crédito malparado no país, no valor de 2.700 milhões de euros. Este montante desceu 22,9% face ao 3º trimestre do ano anterior, e está maioritariamente alocado ao setor das PME’s, responsáveis por 2.000 milhões de euros de malparado. 41% do crédito que as empresas têm em incumprimento (1.100 milhões de euros) diz respeito ao imobiliário corporativo.
Pelo contrário, no segmento das famílias o incumprimento aumentou no último ano, representando 42% do volume de NPL do país, no valor de 2.100 milhões de euros, mais 10,5% que no 3º trimestre de 2023. 52% deste incumprimento diz respeito a crédito à habitação, num total de 1.100 milhões de euros, mais 10% que os 1.000 milhões registados no período homólogo.
Ainda assim, o peso do crédito malparado sobre o total dos empréstimos mantém-se bastante mais reduzido no segmento das famílias do que no das empresas. No 3º trimestre de 2024, o incumprimento nas famílias correspondia a 2% do total de crédito concedido e, em específico, no segmento do crédito à habitação, esse peso é de 1,3%. No setor das empresas, apesar da redução, o incumprimento representa 5,1% do montante financiado.
Venda de carteiras de NPL somou os 7.600 milhões em 2024
A Prime Yield estima que, no ano passado, tenha sido transacionado um volume de 7.600 milhões de euros de NPL. Neste montante, o Projeto Cascais, no valor de 4.200 milhões de euros, teve um impacto relevante, já que se tratou de uma operação sem precedentes, que envolveu a compra de um servicer e das respetivas carteiras de NPL. Excluindo o efeito desta operação de dimensão atípica, a atividade terá ascendido a 3.400 milhões, mais que duplicando o volume de 1.400 milhões contabilizado em 2023.
A banca mantém-se como um dos operadores mais dinâmicos na colocação de carteiras para venda, mas o impulso da atividade em 2024, seguindo a tendência europeia, deve-se à aceleração das transações no mercado secundário e aos negócios corporativos.
Francisco Virgolino, Managing Director da Prime Yield, explica em comunicado que «a atividade em 2024 reflete a maturidade do mercado. Os bancos continuam a colocar carteiras para venda no mercado, mas o grande impulso do ano deveu-se às transações no mercado secundário, bem como a acordos de venda de servicers, como são os exemplos da venda da Algebra Capital e da Do Value e respetivas carteiras. Ou seja, há um peso crescente de operações corporativas e um aumento da atividade no mercado secundário, típico de um mercado que já fez um caminho forte de desalavancagem e que leva a que se repensem modelos de negócio e estratégias para compensar a redução de escala das transações e ganhar eficiência».
A Prime Yield recorda que as vendas de NPL em Portugal travaram com a pandemia, passando de patamares de 7.000 e 8.000 milhões de euros em 2018 e 2019 para cerca de 1.000 milhões em 2020. Em 2021, cresceu apara os 3.500 milhões de euros, mas há dois anos que perdem tração, atingindo os 1.700 milhões em 2022 e 1.400 em 2023.