São mais de 3.500 os alojamentos locais de Lisboa que ainda estão inativos depois da pandemia. Só o ano passado, o setor registou quebras de faturação entre os 55% e os 60%.
Os números foram dados pela ALEP, associação do setor, e entregues esta semana na Assembleia Municipal de Lisboa, numa altura em que os deputados municipais estão a apreciar uma proposta aprovada pelo PS que prevê a suspensão imediata de novos alojamentos locais em toda a cidade enquanto decorrer a revisão do regulamento municipal. Proposta esta sobre a qual a direita tem ainda várias dúvidas.
Para a ALEP, o anúncio de suspensão das licencias pode ter um efeito «contraproducente», já que leva a um aumento de registos de quem procura não ficar “de fora” do mercado.
«Lisboa, junto com o Porto, foi dos destinos mais afetados com a crise, com quebras de faturação entre 75%-80% em 2020 e 55%-60% em 2021», refere o documento da associação, segundo a qual dos 19.651 alojamentos locais registados no RNAL em Lisboa «acima de 3.500 não estão ativos». 2.000 saíram das plataformas durante a pandemia, e cerca de 1.500 dizem respeito a “registos fantasma”, feitos com receio das medidas de contenção, sem atividade efetiva.
Segundo a associação, em 2020 e 2021 registou-se um crescimento quase nulo e uma «renovação saudável» dos AL, já que «foram substituídos registos nas zonas históricas, com maior concentração, por novos registos em zonas fora das áreas turísticas», nomeadamente para arrendamento de média duração, por exemplo, para estudantes, familiares e doentes em tratamento hospitalar, pessoas com a casa em obras ou nómadas digitais. «O AL não está limitado aos turistas», recorda a ALEP.
A associação acredita que «a possível suspensão destas áreas não turísticas vai afetar justamente a oferta destes segmentos necessários à cidade e que antes não encontravam solução de alojamento temporário», citam a Lusa e o Observador.
Segundo a associação, o registo de novos alojamentos fora das zonas de contenção (no centro da cidade), foi «inexpressivo», nomeadamente quando comparado com o número de casas vazias nos mesmos bairros, à exceção da zona da Estrela.
Aqui, nos últimos dois anos surgiram mais 115 alojamentos locais, área que «já estava a ser acompanhada» no âmbito do regulamento municipal e que «apesar de não ter tido um grande crescimento, já estava nos limites de contenção definidos».
Em 2020, desceu o número de novos registos de AL, e o mesmo teria acontecido em 2021 se não tivessem existido anúncios de intenção de suspensão de novas licenças, o que criou «registos fantasma», o que volta a acontecer este ano com esta proposta aprovada pela oposição.
A associação defende que «é preciso repensar este tipo de política, que além de trazer algumas injustiças, como o agravamento fiscal e intransmissibilidade, geram um comportamento irracional no mercado e que tem o efeito justamente contrário ao proposto pelas medidas».
A ALEP recorda que a maior parte dos alojamentos locais é de microempresas ou particulares. E são mais de 55.000 as famílias que, a nível nacional, dependem deste setor, com 28% das propriedades a situar-se em Lisboa e 72% fora dos grandes centros urbanos.