A Urbania, empresa espanhola de promoção, investimento e gestão de projetos imobiliários, abriu escritório em Portugal no primeiro trimestre deste ano, e está para ficar, somando um plano de investimentos que deverá ultrapassar os 100 milhões de euros nos próximos três anos. Quem o diz é Nuno Torcato, diretor da empresa em Portugal, que em entrevista à Vida Imobiliária explica que «a Urbania vinha a olhar para o mercado português há algum tempo. Portugal sempre foi uma extensão evidente das nossas operações, e sentimos que tinha chegado a hora de tornar a nossa presença mais forte no país». Segundo o responsável, «temos excelentes perspetivas, não só na área residencial, onde acreditamos existir um enorme potencial no desenvolvimento de projetos onde os portugueses possam e queiram viver, mas também na área dos “alternativos”, onde se incluem as por exemplo as residências de estudantes, o built-to-rent ou o coliving áreas que acreditamos ainda estarem a dar os primeiros passos em Portugal e ainda existem oportunidades que não existem noutros países europeus já muito mais consolidados», explica. O projeto mais avançado que a Urbania tem neste momento em Portugal (ainda em fase de licenciamento) é um empreendimento misto na Avenida da República, em Vila Nova de Gaia, com componente residencial, com cerca de 50 apartamentos, «cujas vendas se vão iniciar em breve», e uma residência de estudantes com 413 quartos, além de uma área de retalho. Nuno Torcato acredita que esta «é uma zona fantástica perfeitamente consolidada em termos residenciais e de lifestyle e que se encontra apenas a 10 minutos a pé da zona da Ribeira no Porto através da ponte D. Luis I». Por outro lado, a Urbania tem também «em fase inicial de licenciamento» uma outra residência de estudantes com 450 quartos em Lisboa. O responsável adianta que «estamos ainda a analisar outro projeto em Lisboa com potencial de construção de cerca de 20.000 metros quadrados para uso misto de coliving, residência de estudantes e habitação». Na área da promoção e ordenamento de grandes terrenos, uma das principais áreas de negócio da Urbania, a empresa está atualmente «a olhar para vários projetos em Oeiras, Amadora ou Almada», todos eles «de grande dimensão, acima dos 100.000 metros quadrados de construção. O nosso objetivo passa por desenvolver espaços e projetos híbridos flexíveis, onde as fronteiras entre casa, trabalho e lazer se misturam», explica Nuno Torcato. Habitação acessível é “uma das prioridades”Nuno Torcato afirma que «uma das prioridades que temos em Portugal é o desenvolvimento de projetos de habitação acessível aos portugueses». Acredita que o “built to rent”, ou a promoção para arrendamento, pode ser um a das soluções para a falta de habitação em Portugal: «acredito que existe uma forte procura, não só por parte dos potenciais compradores, como também de investidores internacionais, que procuram projetos com dimensão para investir em Portugal», garante. «Mas para isso deveria existir vontade política para se criarem as condições para canalizar mais projetos para built-to-rent ou coliving, que pudessem chegar aos portugueses com rendas tão baixas quanto possível». O diretor da Urbania aponta vários entraves, nomeadamente a impossibilidade de deduzir o IVA da construção ou a obrigação do estacionamento em cave, «o que encarece os projetos a um nível que implicará um valor de renda que não é compatível com o bolso dos portugueses». Destaca também o facto de a banca se focar mais no crédito à habitação, «um apetite inverso ao que têm em apoiar os investidores que querem desenvolver projetos de built to rent ou coliving». Por outro lado, os projetos de habitação para venda têm ainda uma rentabilidade «mais interessante do que os projetos para arrendamento, o que faz com que muitos projetos inicialmente pensados para arrendamento são transformados para venda». «Estes constrangimentos têm um impacto direto não só no aumento do preço mas também no ritmo a que estes imoveis chegam ao mercado e vão desde os tempos do licenciamento camarário (que levam a que alguns investidores simplesmente deixem de querer desenvolver projetos em determinadas cidades), passando por toda a burocracia e regulamentação instável, até ao aumento dos custos de construção». E completa: «é por demais evidente que está nas mãos do Estado criar as condições adequadas para que um investimento forte em habitação para os mais jovens, para a classe média e tanto para arrendamento e venda».Remata que «a Urbania está, como outros investidores, a tentar definir os projetos e o modelo de negócio que permitirá desenvolver os primeiros projetos neste segmento em Portugal». Volume de estudantes deverá regressar a níveis pré-pandemiaO responsável destaca que Portugal começa agora a dar os primeiros passos no segmento das residências de estudantes, e acredita que o ritmo de chegada de estudantes estrangeiros pode continuar a aumentar nos próximos anos, passada a pandemia: «assim como os turistas irão regressar em força ao nosso país, também os estudantes internacionais regressarão motivados não só pelos prestigiados cursos em inglês que podem encontrar no nosso país, mas também pela comida, clima, segurança e todo o lifestyle». E completa que «continuamos a ter em Portugal das “provision rates” mais baixas da Europa, o que indica que a oferta de residências de estudantes tem todas as condições para continuar a aumentar, não só em Lisboa e Porto mas também nas cidades secundárias». Um novo fundo de “co-investimento”Outra das áreas prioritárias para a Urbania em Portugal passa por «um fundo de co-investimento que gerimos e para o qual estamos ativamente à procura de bons projetos desenvolvidos por promotores com experiência». Este fundo «poderá olhar para diferentes estruturas de financiamento, desde uma dívida mais tradicional até formas de financiamento mais alternativas, como são a dívida subordinada, mezzanine, equity entre outros». «Gostavamos que os promotores portugueses olhassem para nós como um apoio que poderão ter quando necessitarem de liquidez para levar os seus projetos para a frente. Neste fundo assumiremos sempre um papel muito mais passivo de sócio puramente financeiro, ficando para o nosso parceiro a responsabilidade da execução do projeto», conclui o responsável.