Este responsável foi o keynote speaker da IV Executive Breakfast Session da APPII, que decorreu esta semana em Lisboa, no hotel Marriott, ocasião durante a qual partilhou com os associados desta organização as preocupações e perspetivas do setor para este ano que agora começou. Explicou que «2015 foi o culminar da crise, o ponto alto do desinvestimento na construção, da falta de trabalho, da legislação que não foi corrigida, dos números mais expressivos da falta de confiança».
Perdidos 220.000 postos de trabalho no setor nos últimos anos, e depois de encerradas 36.000 empresas da área, acredita que 2016 será decisivo, já que já se notam «os primeiros sinais ténues de resolução de alguns problemas», nomeadamente no que concerne o crédito, a carteira de encomendas e o número de insolvências, numa altura em que «o investimento estrangeiro é muito importante para o futuro». «São os primeiros sinais positivos depois de 15 anos de descidas».
Reis Campos destacou a importância dos primeiros meses de 2016, já que em 2015 «tivemos, no fundo, 6 meses de atividade, e o resto foram ciclos políticos. E a construção começa este ano com pior do que no início de 2015, por oposição ao imobiliário, que começa muito melhor». E acredita que «não fossem os problemas dos “golden visa”, teríamos um ponto de partida excecional». Por isso, «é necessário que estes primeiros meses sejam de estabilização».
O responsável partilhou com os associados da APPII a «necessidade de aproveitar o Portugal 2020, e de discutir o Plano Juncker», bem como em apostar na reabilitação urbana, que «ainda não tem grande expressão em Portugal. Vemos as cidades mais bonitas, estamos a fazer cada vez mais e melhor, mas em termos de números ainda estamos longe de atingir a dinâmica que queremos».
Aproveitou também para abordar a questão da habitação em Portugal e para «desmistificar» a ideia de que há habitações a mais, já que «temos 1 casa e meia por família. Mas várias casas estão devolutas, algumas são 2ªs ou 3ªs habitações, e outras estão sobrelotadas. Felizmente já temos noção das necessidades do nosso património».
Almeida Guerra, vice presidente da direção da APPII, um dos intervenientes da discussão, salientou, sobre este tópico, que «tem de haver a opção demolição conjugada com a reabilitação. Não temos de guardar casas que não prestam, e há que saber guardar o que é bom. Temos tanta gente sem casa e tanta casa sem gente», refletiu.
Outra das grandes prioridades para o setor este ano acredita que é a internacionalização: «no ano passado contabilizam-se 111.000 transações de investimento imobiliário em Portugal, com um volume de negócios de 15.000 milhões de euros». E recorda que para que o setor vingue e tenha bons resultados, os objetivos têm de estar focados em «mais crescimento, mais economia, e mais emprego. Precisamos também que a assembleia trabalhe», completou. «É um setor que tem muitas capacidades, soube dimensionar-se e adaptar-se».
Almeida Guerra notou ainda que «a luta tem de ser sempre pelo crescimento económico, para que as famílias possam estar mais confortáveis», e acredita que só depois disso é que o imobiliário tem mais espaço para crescer. Uma opinião partilhada com Reis Campos, para quem «não vale a pena olharmos para o imobiliário sem olharmos para o crescimento económico e para o emprego».
Aprovação do Orçamento de Estado é essencial para acabar com as dúvidas
Neste encontro de profissionais imobiliários ficou claro que a incerteza fiscal e legal atual, com a entrada do novo Governo, é um dos entraves na tomada de decisões, não tanto dos investidores estrangeiros, mas dos portugueses que se movem no meio. Reis Campos notou que «é importante saber em que quadro nos vamos mover. O país não precisa de desconfianças, tais como a mexida no imposto sucessório que, se sempre avançar sobre os valores patrimoniais, será desastrosa».
IMI não deve ser automático
Manuel Reis Campos foi questionado sobre as questões fiscais no que diz respeito ao património imobiliário em Portugal, onde não pode deixar de ser abordado o IMI. Para si, «o IMI é hoje em dia mais estável do que antes», quando o sistema fiscal incidia, maioritariamente, sobre o rendimento, no sentido em que os contribuintes sabem melhor com o que contar. «O IMI não devia ser automático, porque é das poucas coisas que ainda controlamos enquanto contribuintes», acredita. Uma visão que prometeu defender sempre junto do Executivo.
“Golden Visa”: Investidores já se foram embora?
Hugo Santos Ferreira, secretário geral da APPII, colocou ainda a questão a Reis Campos sobre os atrasos registados nos “golden visa”, desde o escândalo de corrupção, e desde que o sistema burocrático de atribuição destes vistos bloqueou no ano passado: «Tememos que o programa seja morto por estar inoperacional. Será que os investidores (particularmente chineses) já se foram embora para mercados concorrentes?», à qual Manuel Reis Campos respondeu que «a informação que tenho é que sim».