Cresce o interesse dos investidores internacionais no mercado das residências sénior, ou “senior living”, na Europa, mas também em Portugal, um mercado que «tem todos os fundamentais e dinâmicas necessárias para aumentar o número destes projetos residenciais».As palavras são de Hugo Santos Ferreira, Vice-Presidente Executivo da APPII, um dos oradores do webinar “Senior Living in Portugal”, organizado esta semana pela Associação Portuguesa de Resorts e pela Savills. Afirma que, nos últimos anos, surgiram vários projetos deste género no mercado português, pela mão de investidores que «escolhem maioritariamente a costa portuguesa e os subúrbios das grandes cidades do litoral». Acredita que o «modelo certo do nosso “senior living” será mais ligado aos resorts».Admite que «estamos ainda um passo atrás da Europa, não temos ainda uma ideia bem clara do que os tradicionais lares podem ser no futuro enquanto novos conceitos de residência sénior. Temos de fazer a mudança para este novo modelo», porque «temos todas as condições para colocar mais projetos no terreno».O investimento em residências sénior movimentou cerca de 7.000 milhões de euros na Europa no ano passado, e é este ano um dos setores com melhores perspetivas para os investidores no Velho Continente. Este ano, o volume investido pode mesmo atingir um novo máximo, calcula Lydia Brissy, Savills International European Research Director.Segundo a responsável, «os investidores interessam-se cada vez mais por este setor, nomeadamente por mercados secundários». Trata-se de uma classe de ativos que «garante diversificação do portfólio, retornos de longo prazo, é relativamente contra-ciclo, há muita falta de oferta, é um modelo de rendimento alternativo e tem bom potencial de conversão se necessário». Os ativos têm uma elevada taxa de ocupação, por vários anos, e atualmente, as yields na Europa rondam os 3,5% a 5%.Alexandra Portugal, Savills Portugal Market Research Associate, destaca que, em Portugal, o envelhecimento da população, o aumento da esperança média de vida ou o facto de a maior parte dos cuidados com os idosos ainda estarem a cargo das famílias confirmam a necessidade deste tipo de ativos: «a oferta de qualidade ainda é muito pouca». A Savills identificou apenas 64 residências sénior em todo o país que correspondem ao conceito de Assisted Living, com serviços de alta qualidade.«É ainda um conceito pouco desenvolvido, que concentra ainda apenas um pequeno grupo de investidores. A oferta ainda é muito dominada por instituições privadas ou municipais muito dependentes do Estado, e muitos lares continuam desadequados às necessidades dos utentes», explica.Horacio Blum, Savills Portugal Operational Capital Markets Associate Director, afirma que «sentimos que os investidores privados ou institucionais procuram este tipo de projetos em Portugal», e enumera 4 projetos nos quais a Savills está a trabalhar, na zona de Lisboa e não só.Nos novos conceitos de residências sénior, «tudo tem a ver com a vida em comunidade». Este tipo de ativo «permite um bom retorno», com «uma estada média de 5 a 7 anos», destaca Marcus Roberts Savills International Head of European Investment & Development. Salienta que, na Ibéria, o modelo predominante passa pela construção para arrendamento, mas também a construção para venda começa a acontecer mais frequentemente.Bernard Pinoteau, International Development Director da Domytis, é um desses investidores. A empresa tem já um projeto em Vilamoura e outro no Porto, e foca-se no desenvolvimento e operação de residências para o mercado sénior português.O responsável explica que as residências sénior são procuradas por quem procura «segurança para os familiares. Muitas vezes, viveram várias décadas em casas demasiado grandes, com muitas escadas, num bairro que mudou, e acabam por ter de mudar porque a sua casa já não se adapta ao seu atual estado de saúde. Por outro lado, as pessoas estão mais velhas e ficam mais sozinhas à medida que outros próximos já faleceram também. As famílias não podem assistir os pais como podiam há algumas décadas. E muitas vezes experimentam a residência antes de se mudar».Licenciamento e financiamento ainda são constrangimentosOs promotores de residências sénior encontram ainda alguns constrangimentos ao nível do licenciamento ou do financiamento, não só em Portugal, mas também na Europa, e também ao nível dos custos.Hugo Santos Ferreira considera que «o licenciamento e o enquadramento legal das câmaras para melhorar este tipo de ativos é um entrave à nova oferta. O mesmo acontece com o coliving, as autarquias não acolhem bem estes novos tipos de ativo residencial. E cada autarquia tem os seus regulamentos».Bernard Pinoteau partilha que «a burocracia é um problema em todos os países europeus, pois os licenciamentos não contemplam este tipo de ativos». E dá o exemplo, nomeadamente de Portugal, da obrigação do lugar de estacionamento na construção nova, «que é inútil para os utentes. Mas vai acabar por acontecer alguma flexibilidade», prevê.Por outro lado, outra dificuldade que encontra é a compatibilização dos preços destas residências com as pensões. «É um desafio conciliar yields de 5% e competir com os produtos residenciais num momento de boom deste mercado, com o aumento dos custos de construção, e não aumento das reformas. É difícil garantir que o produto seja compatível com a classe média portuguesa».Hugo Santos Ferreira destaca também que este setor «ainda é considerado um setor de investimento alternativo, e tem ainda alguns constrangimentos ao nível do financiamento bancário. Os bancos não se mostram muito disponíveis para financiar este tipo de investimento».