Esta informação foi avançada esta quinta-feira por António Gil Machado, diretor da Iberian Property, no webinar Iberian Property Investment Talks, organizado pela Real Asset Media em parceria com a Iberian Property.
Este valor – que é duas vezes superior ao registado no mesmo período do ano passado –mostra, segundo o diretivo, que apesar dos constrangimentos a atividade do mercado imobiliário ibérico tem seguido caminho. «As transações não pararam. O arrendamento continua. O take-up foi muito bom em Lisboa e no Porto no primeiro trimestre. A construção em Portugal também não parou e em Espanha apenas parou algumas semanas, mas já retomou. E, portanto, temos as condições reunidas para dizer que a vida continua. Embora haja muito stress, os negócios continuam a acontecer», explica.
Os dados mais recentes reunidos na plataforma Iberian Property Data confirmam isso mesmo. Entre janeiro e março foram concluídas 83 transações entre Portugal e Espanha. E desde 1 de abril até ao momento ocorreram mais 14 transações, «o que mostra que o mercado realmente não parou», sublinha António Gil Machado. Em concreto, 27% do investimento total no primeiro trimestre foi realizado em Portugal, cerca de 30% em Madrid, 6% em Barcelona e 37% em outras cidades espanholas, o que reflete ainda que «há muito interesse nas outras cidades espanholas», sublinha.
Ainda assim, «estes valores não mostram toda a história e, por isso, temos de esperar para ver o que vai acontecer no segundo trimestre, já que agora estão a ser fechadas as transações acordadas no passado recente», alerta o diretivo.
E, depois, há um outro lado da história, aquele que só iremos assistir na segunda metade do ano. «O impacto real desta crise virá até ao final do ano. Os negócios que estão a ser acordados agora e que deverão ser fechados no terceiro e quarto trimestres talvez não cheguem a acontecer. Portanto, agora ainda é muito cedo para avaliar o real impacto da atual conjuntura», explica António Gil Machado na ocasião.
Hotéis e Retalho apresentam atividade «forte»
No que diz respeito aos segmentos de mercado, o diretor da Iberian Property revela que a indústria hoteleira tem tido uma atividade «forte», registando 15 negócios desde janeiro até ao momento. Um dos negócios em destaque neste segmento é o portfólio dos hotéis real do Grupo Bernardino Gomes que reúne 12 unidades, e que foi vendido à Palminvest por 300 milhões de euros. Na sua opinião, «a indústria hoteleira é a chave para economia de Portugal e Espanha. Acredito que no longo prazo o turismo será um dos setores que irá evoluir. E este momento poderá ser uma grande oportunidade para os investidores porque há decerto muitos “stress assets”. Ainda assim, é certo que no curto prazo será difícil, já que este é um setor muito afetado pela crise e apresenta riscos elevados».
Outro segmento «forte» é o retalho. Embora este seja também um dos mais impactados pela crise, foram concluídos 17 negócios desde janeiro, o que demonstra que este sector tem «sido muito forte e tem apresentado muita atividade», sublinha. Um dos negócios concluídos este ano foi o portfólio de 6 shopping centres da Sonae Sierra que foi transacionado por 525 milhões de euros.
Recuperação do mercado em Portugal e Espanha terá o mesmo ritmo?
Questionados por Richard Betts, Diretor da Real Asset Media, sobre qual o mercado ibérico que irá recuperar mais cedo, a opinião dos participantes divide-se: 50% assume que o mercado imobiliário português irá retomar mais rápido do que o espanhol e a outra metade assume o contrário.
Sobre este ponto, António Gil Machado explica que há bons indicadores para ambos os mercados. Enquanto «Espanha tem um mercado maior e com maior liquidez e, portanto, tem capacidade para reagir rapidamente, Portugal teve uma maior habilidade para conter a propagação do vírus e a sua economia nunca parou».
O que é certo é que desde 2017 até agora contabilizam-se mais e 1.000 negócios de investimento imobiliário entre Portugal e Espanha, o que é um sinal de que «o mercado tem sido muito ativo nestes últimos anos», conclui.