Nas estimativas para o fecho do ano, a JLL destaca que o mercado manteve um volume de transações elevado, apesar da pandemia, com o investimento comercial a rondar os 2.600 milhões de euros, depois dos 3.240 milhões de euros investidos no ano passado, uma quebra de cerca de 20%.
Pedro Lancastre, diretor geral da JLL, recorda que «o ano começou a todo o gás nos diferentes segmentos do mercado e, não fosse a proliferação da COVID-19, 2020 teria sido o melhor ano de sempre para este setor, quebrando novos recordes. Esta situação totalmente inesperada, de contornos desconhecidos e inéditos, veio impor um ritmo disruptivo em todas as esferas da nossa vida, com um impacto muito profundo na economia e, também, no mercado imobiliário».
«Contudo, depois de um 2º trimestre de pânico num quadro de absoluto desconhecimento, o 3º trimestre foi trazendo normalidade ao setor, com as transações a acontecerem, e o 4º trimestre foi já marcado por uma maior confiança e o regresso de muitos investidores ao ativo, também porque a vacina deixou de ser uma miragem para passar a ser uma realidade», completa o responsável.
Os resultados preliminares do mercado de investimento imobiliário revelam que «Portugal mantém-se no radar dos investidores internacionais, pois continua a apresentar os fundamentais que antes os atraíam. Não obstante, o capital local, proveniente dos fundos de investimento imobiliário abertos e dos fundos de pensões, esteve bastante mais ativo», nota Fernando Ferreira, Head of Capital Markets da JLL.
Segundo o especialista, «os escritórios foram um dos ativos mais apetecíveis, pois mantiveram uma boa procura mesmo na pandemia, ao passo que o retalho sofreu maior escrutínio por parte dos investidores, devido ao impacto da pandemia na livre circulação dos consumidores, o que provocou uma quebra na performance de muitos ativos deste segmento, especialmente no que respeita os centros comerciais».
Por outro lado, «o mercado residencial tem tido forte procura, incluindo os ativos para arrendamento de longo-prazo, mais conhecido por Multifamily, no qual a falta de produto acabado e pronto a funcionar, tem atrasado alguns processos de compra e venda. Outro segmento com muita procura, mas com falta de produto para satisfazer o apetite dos investidores é o setor industrial e de logística». Fernando Ferreira destaca ainda «o crescente interesse pelos ativos imobiliários por parte dos privados, apoiado pela incerteza do mercado de ações e pelas baixas taxas de juro».
Habitação soma €24.000M
Depois dos 25.100 milhões de euros investidos na compra de habitação em 2019, em 2020 o volume terá atingido os 24.100 milhões de euros, calcula a consultora.
A confirmarem-se os números, este será também o melhor volume de sempre para este segmento do mercado.
Patrícia Barão, Head of Residential da JLL, destaca um início de ano «muito promissor, com o melhor primeiro trimestre de sempre em número de unidades vendidas e em valor», seguido por um forte abrandamento no segundo trimestre do ano, que trouxe um abrandamento de 20% face ao período homólogo, e por uma retoma da procura a partir do verão. Mas admite que «claro que 2020 terá uma performance abaixo do ano passado, com menos unidades vendidas, mas é notável o aumento do ticket médio das aquisições, o que vai elevar o total das transações para um volume que se estima de 24.000 milhões de euros».
Segundo a responsável, «a nova oferta está a adaptar-se às tendências que surgiram com a pandemia, trazendo para o mercado opções residenciais com espaços de trabalho e espaços exteriores, o que será muito importante para a dinâmica do mercado em 2021».
Liquidez vai assegurar dinamismo em 2021
Pedro Lancastre está convicto de que o mercado de investimento imobiliário vai continuar muito dinâmico em 2021, pois «existe muita liquidez no mercado e, além dos investidores tradicionalmente interessados em imobiliário, as baixas taxas de juro vão direcionar novo capital para este segmento. Ao mesmo tempo, o mercado português mantém os seus fatores distintivos de atratividade. Temos um imobiliário muito bem cotado, com um bom potencial de valorização e oportunidades muito interessantes em setores que noutros países já estão aquecidos, mas que aqui estão a dar os primeiros passos», explica.
Na área da habitação, o responsável identifica que «estão a emergir projetos para novas ocupações como as residências seniores ou de estudantes, onde o arrendamento é o segmento alvo de investimento institucional». E acrescenta que «outros setores como os escritórios e o retalho, especialmente, estão num momento de grande transformação, tendo de lidar com a dualidade conveniência/experiência. Este tipo de imóveis terá de se reinventar, garantindo muito mais do que a conveniência aos seus utilizadores. O espaço físico será um elemento chave para proporcionar uma experiência às pessoas, quer sejam consumidores ou colaboradores de uma empresa. Isso terá um grande impacto na forma como conhecemos os escritórios e as lojas atualmente».
Por tudo isto, o diretor geral da JLL acredita que «2021 deverá ser outro bom ano para o setor imobiliário nacional e que Portugal sai bem posicionado da pandemia face a outros congéneres europeus, mantendo, além disso, os seus atrativos intactos».
Isto apesar dos desafios estruturais com que o setor já se deparava antes da pandemia, como os atrasos nos processos de licenciamento, ou a necessidade de rever a estratégia para os “golden visa”: «manter as alterações recentemente anunciadas pelo governo a este regime é uma ameaça para o setor imobiliário, pois o investimento canalizado para o interior do país através deste veículo será sempre muito residual. Vai, sim, representar perda de investimento, uma vez que a esmagadora maioria dos investidores quer investir nas grandes cidades. Temos de dar condições de estabilidade e atratividade para que o capital estrangeiro continue a vir para o nosso imobiliário, por um lado, e para que os operadores já presentes no mercado continuem a investir em novos projetos, por outro. Isso são condições essenciais para a retoma pós-pandemia», conclui o responsável.