Nos últimos anos, Portugal tem-se mostrado um refúgio para os investidores imobiliários. No entanto, o país atravessa um momento conturbado, assim como outros países europeus, marcados pela inflação que se prevê duradoura e o aumento das taxas de juro. Continuará Portugal a ser um destino apetecível para os investidores internacionais? Esta e outras questões foram abordadas na sessão “Portugal, o Lugar para Visitar, Viver e Desfrutar!”, no primeiro dia do Portugal Real Estate Summit, o maior evento de investimento imobiliário da Península Ibérica.
Investidores procuram oportunidades para investir em Portugal
«Os investidores estão de olhos postos em Portugal. Há oportunidades em todos os setores», frisa Patrícia Pinto, Investor Relations Sonae Sierra, ao atentar para o crescente interesse dos investidores no setor imobiliário português, observado nos últimos anos.
Para a Arrow Global, a «inconstância nos prazos e licenciamentos» é uma das razões pela qual «não investimos ainda mais no imobiliário português», explica John Calvão, Principal Arrow Global, ao reputar o imobiliário português como «um investimento relevante» para o grupo em Portugal. Jonatas Szkurnik, Senior Partner da Patron Capital Partners, concorda com o representante da Arrow Global, quando diz que o «licenciamento e os impostos são os principais desafios para quem investe em Portugal». Na última década, o Governo fez um «bom trabalho para reestruturar o país», todavia hoje é «cada vez mais difícil de investir em Portugal».
“Gostaríamos de apostar no Build to Rent em Portugal”
O representante da Patron Capital Partners salientou o interesse do fundo imobiliário europeu de private equity em «apostar no Build to Rent em Portugal», no entanto «com a questão do licenciamento e dos impostos torna-se difícil. O BTR para habitação acessível, por exemplo, deveria haver em grande número em Portugal». O responsável recorda e considera que «Lisboa tentou ter um programa de renda acessível, mas tinha regras sem sentido económico, era muito complicado».
“É difícil encontrar terrenos que funcionem bem para o BTR”
Ainda na ótica do construir para arrendar, John Calvão admite que «já procurámos alguns projetos de BTR em Portugal para investir, mas quando vamos fechar as contas a matemática simplesmente não funciona». A Arrow Global «adoraria investir neste segmento, mas há demasiados aspetos que simplesmente não funcionam», atendendo às recentes mudança na lei do arrendamento.
Patrícia Pinto reforça esta «incerteza que existe na lei do arrendamento», sendo que é «muito difícil convencer os investidores a investir nestes setores em Portugal. Atualmente, estamos a investir em high-end BTS e a fazer novas parcerias». A responsável revela ainda que, nos últimos anos, «temos apostado em fontes de financiamento ligadas aos KPIs de sustentabilidade».
Apresentação conjunta - JLL e Savills
A sessão contemplou ainda a apresentação conjunta da JLL e Savills (Turismo, Residencial e Habitação). Em primeira instância, Pedro Lancastre, CEO da JLL Portugal, constatou que o mercado residencial está a registar uma evolução positiva este ano, apesar de as vendas terem recuado 20% e o ritmo de crescimento dos preços abrandado para 5%, com as pré-vendas a manterem-se muito fortes (acima de 50%).
«O feedback que temos na JLL é que as vendas em planta continuam a correr bem, mas agora vendem-se primeiro e mais facilmente as casas de tipologias mais pequenas, comparativamente às maiores», refere Pedro Lancastre, acrescentando que a implementação de medidas como é o caso das leis do arrendamento, IVA a 6% na reabilitação e a criação dos Vistos Gold, tiveram um «impacto extremamente positivo» no mercado português.
Para o responsável pela JLL Portugal, «precisamos de mais construção nova em escala», sendo que o perfil dos promotores e investidores está a adaptar-se, assim como há uma maior diversificação de tipologias, produtos e diversificação geográfica.
Paulo Silva, Head of Country da Savills Portugal, salienta que o desenvolvimento global a que temos assistido «está também a mudar significativamente a forma como desenvolvemos e utilizamos o imobiliário», acrescentando que «vamos passar a apostar mais nos serviços que disponibilizamos do que nos metros quadrados em si».
“Para atender às necessidades, devemos mover as peças”
No setor living, Paulo Silva indica que «temos uma população em envelhecimento e a urbanização a acelerar, criando uma necessidade de senior living care homes. Em 2050, cerca de 43% da população residente portuguesa terá 65 anos ou mais». O responsável considera que a «acessibilidade da habitação é o grande desafio atual», sendo que a escassez de oferta residencial disponível «deve-se também à perda de capacidade produtiva».