Imobiliário portuense reestrutura-se para prolongar a fase virtuosa do ciclo

Imobiliário portuense reestrutura-se para prolongar a fase virtuosa do ciclo

Esta foi uma das principais conclusões de um pequeno-almoço dedicado a debater «Os investimentos que marcam o novo ciclo imobiliário» do Porto, uma iniciativa co-organizada pela Iberian Property e a Cushaman & Wakefield no passado dia 14 de maio naquela cidade, e que reuniu à mesa uma dezena de especialistas e investidores que estão a dar cartas nesta nova fase do ciclo do segundo maior mercado imobiliário português.

Na perspetiva de Óscar Sá, responsável pela área de reabilitação urbana no escritório da Cushman & Wakefield no Porto, «temos todas as condições para prolongar este ciclo virtuoso do mercado imobiliário», até porque «todos os setores ainda têm muito para dar e para crescer». O que, contudo, não quer dizer que não seja precisa alguma cautela ou que não haja ajustes a fazer, até porque «é preciso estarmos conscientes em que fase do ciclo estamos», sublinhou Francisco Carmona, Head of Real Estate Development da Via Célere em Portugal.

«Continua a haver muito atividade e muito otimismo, mas no que se refere a preços é evidente uma maior cautela relativamente há um ano atrás», reconhece Eric Van Leuven, Executive Partner e Head da Cushman & Wakefield em Portugal. Uma ideia confirmada pelo administrador do Grupo Ferreira Holding, Rui Ávila, alertando que «hoje em dia, já não se deve comprar um ativo na expetativa que vai continuar a valorizar indefinidamente» no curto prazo. 

E, numa altura em que Porto segue firme no seu objetivo de se consolidar como um destino internacional para a instalação de pessoas e serviços, esta questão assume uma importância maior. Até porque, «o Porto é e sempre foi um destino onde o preço é muito importante», considera Tiago Violas, CEO do Grupo Violas Ferreira; e «se não tivermos preços ajustados, não seremos competitivos na Europa», acrescenta Óscar Sá.

 

Escritórios estão de regresso à cidade

Um dos grandes motores de força desta fase virtuosa do ciclo, os escritórios são aliás um dos principais palcos da transformação em curso no mercado imobiliário do Porto. Começando pelo facto de «estarem a ser trazidos de volta para a cidade, naquela que é uma tendência que está a ganhar terreno internacionalmente», como referiu Eric Van Leuven.

Uma mudança que está a ser vista com bons olhos, até porque «trazer os escritórios para dentro da cidade contribui para aumentar o rendimento disponível das populações», defende Tiago Violas, CEO do Grupo Violas Ferreira – um dos maiores grupos empresariais portugueses e um player de referência no setor imobiliário portuense. Além disso, cada vez mais «a centralidade e a rede de transportes públicos funcionarão como grandes ativos dos novos escritórios, já que as gerações mais novas querem estar no centro da cidade e isso funciona como um importante motor para reter e captar novos talentos», defende aquele responsável.

Uma opinião alinhada com a de António Castro Henriques, administrador da SDC Investimentos, que considera que «sendo o Porto uma pequena cidade à escala europeia, deve adaptar a sua oferta a estes requisitos, pois a proximidade, a qualidade de vida e os custos competitivos são as suas principais vantagens competitivas».

 

Habitação nova atrai investidores internacionais

Considerando que «o desafio atual é adaptar mais a oferta à procura latente», como disse Rui Ávila; o mercado residencial de gama média e as formas alternativas de habitação, como o student housing, começam agora a captar uma maior atenção do lado dos investidores, especialmente dos internacionais.

«Este ciclo virtuoso que se vive nas áreas transacionais, nos serviços e no turismo também traz indiretamente uma grande procura por habitação», afirma Francisco Carmona, explicando que na Via Célere «estamos a reposicionar-nos para dar resposta ás necessidades das famílias portuguesas». E, com isso em vista, no seu primeiro projeto residencial no Porto, de construção nova e cujas obras vão arrancar durante o verão, a empresa espanhola está a comercializar as casas a um preço de 3,100 €/sqm.

Simultâneamente, as novas formas de habitação também estão a conquistar terreno e a atrair players internacionais como é o caso da belga Promiris, que apesar de uma primeira incursão em Lisboa, quer «que o Porto seja o porta estandarte da nossa atividade em Portugal. E, como tal, queremos aí apostar em projetos diferenciados em cada um dos três setores onde já estamos presentes na Europa», explicou o responsável da empresa, Carlos Marnoto. Em carteira nesta cidade estão já um primeiro projeto para uma residência universitária que conjuga 220 quartos PBSA com 16 apartamentos, na área do student housing; bem como um projeto residencial que criará «54 apartamentos de construção nova e direcionados para a família portuguesa», e aos quais se deverão somar outros investimentos em breve, nomeadamente «na área das sénior residences, que é um segmento de atividade onde já atuamos noutros mercados europeus».

Confiante quanto ao futuro, e concordando com Francisco Rocha Antunes quando este diz que «chegámos a um ponto da economia do imobiliário local onde há procuras cruzadas»; Carlos Marnoto considera que «o mercado do Porto ainda tem margem de crescimento. Mas é preciso olhar sob todos os prismas e com cautela na hora de avançar, sobretudo para a questão do preço. Porque embora este ciclo virtuoso esta cá, o crescimento não vai continuar em força para sempre».

 

Matosinhos e Gaia são alternativas cada vez mais fortes

Tendo em conta a dimensão da cidade, seria redutor reduzir o mercado imobiliário do Porto à área delimitada pelas fronteiras municipais, concordam os presentes. E, tanto é que quer na área de serviços quer na área residencial «Gaia e Matosinhos são e serão cada vez mais encaradas como alternativas ao centro do Porto», afirma o diretor-geral da Predibisa, João Nuno Magalhães.