Nas palavras de Pedro Siza Vieira, «a melhor forma de atrair investimento estrangeiro é promover estabilidade política e ter um ambiente económico que facilite o crescimento e os melhores retornos possíveis para investir». Reconhecendo a importância do capital internacional para o desenvolvimento do mercado imobiliário do país, o Ministro da Economia explica que «o que nós temos em Portugal é uma procura muito alta pelo imobiliário de qualidade, que irá continuar no futuro».
As características do país como a segurança, «a excelente saúde e educação», a sua abertura e o facto de ser um dos 27 membros da União Europeia (UE) tem contribuído para reforçar a sua posição enquanto destino de investimento internacional. «Nos últimos anos, temos visto o crescimento da atividade económica assim como a atração de investimento internacional e de talento estrangeiro. Temos desenvolvido um ambiente tecnológico que está a atrair talento por todo o mundo», garante Pedro Siza Vieira nesta iniciativa organizada pela Iberian Property e pela Real Asset Media. É por estes motivos que Pedro Siza Vieira acredita que «com estabilidade política, espero que consigamos continuar a ser uma preferência para os investidores internacionais».
É no sentido de promover estabilidade económica que o Governo está hoje a trabalhar num Orçamento de Estado de 2021 «equilibrado» ,que pressupõe «despesas extraordinárias para atenuar as consequências da pandemia», que passam por continuar a dar suporte aos setores mais afetados pela crise como é o caso do turismo e das atividades culturais com ajustes no IVA, e também um esforço para «recuperar o passo da redução do défice assim que a situação sanitária se normalizar». Por outro lado, Pedo Siza Vieira avança que «vamos usar os fundos da UE em termos de estímulo, já que não têm impacto na dívida pública e estimulam a economia».
“As crises são boas para construir o sonho europeu”
O acelerar de tendências em momentos de crise tem vindo a ser cada vez mais evidente. Para Carlos Moedas, Administrator na Calouste Gulbenkian Foundation, algumas acelerações são boas, outras nem tanto, mas uma coisa é certa: «as crises são boas em termo de construção do sonho europeu, porque a Europa só avança através da crise. Se não houver crise não há avanços» resume.
No campo dos avanços positivos está a digitalização que até agora «todos nós resistimos e que ,de repente, não temos outra escolha senão aceitá-la», assume Carlos Moedas, que explica que abraçar a digitalização não significa que não se dê valor aos encontros físicos, muito pelo contrário, «passamos a dar-lhes mais valor do que nunca», afirma. Ultrapassar esta barreira entre o físico e o digital foi um dos trabalhos que desenvolveu nos últimos 5 anos na Comissão Europeia onde foi comissário para a Investigação, Inovação e Ciência.
Outro aspeto importante diz respeito à transformação para o futuro sustentável, que em muito toca o setor imobiliário e a construção, até porque segundo Carlos Moedas «temos mais do que 25 mil biliões de metros quadrados na Europa que precisam de ser adaptados em termos de eficiência energética e termos de construção», negócio que pouco mudou nos últimos 25 anos. E vai mais longe: «toda a transformação em termos de sustentabilidade na construção esta prestes a acontecer», devido à atual pressão das pessoas, dos políticos e da própria UE, que desenha cada vez mais linhas orientadoras neste sentido. «A sustentabilidade é o nosso futuro e, portanto, temos de estar preparados para avançar» neste sentido, alerta os especialistas em imobiliário convidados a assistir à conferência, que juntos representam mais de 20 biliões de euros em ativos sob gestão.
Mas nem todas as tendências que surgem em tempos de crise podem ser benéficas. A aceleração dos poderes do estado é uma das que Carlos Moedas classifica como negativa. «O Estado está agora a invadir a nossa privacidade. Se o Estado ganha poder nunca mais deixa de o ter. O mesmo aconteceu com as taxas: apareceram e nunca mais foram embora», alerta com humor na ocasião.
Por outro lado, há um conjunto de poderes supranacionais que estão a crescer e que são necessários. «O que a crise faz é dar mais algum poder à UE. Antes da crise financeira nós não tínhamos um mecanismo de resolução único e depois temos um; nós não tínhamos um mecanismo de estabilidade europeia, e depois da crise temos um. Nós temos instrumentos que foram criados na última crise financeira que deram mais poderes à UE. Agora, acredito que depois da crise haverá mais mecanismos que também darão mais poder à UE em termos de coordenação de saúde publica», explica Carlos Moedas.
Oportunidades e Desafios do Imobiliário
Os diferentes setores do imobiliário reagiram de formas bastantes distintas aos efeitos da pandemia. A verdade é que neste momento continuar a ser «muito difícil tomar decisões no longo prazo» e, de acordo com Eric Van Leuven, Head of Portugal na Cushman & Wakefield, apesar de 2020 já ter o terceiro ano com o volume de investimento mais alto com 2.300 milhões de euros transacionados até setembro, é notório que a «recuperação do mercado deu-se num passo mais lento do que o esperado». Na sua perspetiva «a desaceleração da atividade de investimento deveu-se à queda esperada da receita operacional líquida e aos termos de financiamento mais duros».
Da passagem da tempestade pandémica há cicatrizes que ficam, e Paulo Silva, Head of Country Portugal na Savills, nomeou algumas. Rejeitando por completo a ideia de que os escritórios vão acabar, Paulo Silva assume que antes irá haver um ajuste no mercado. «A tendência do trabalho flexível passa pela combinação entre trabalhar nos escritórios e trabalhar a partir de casa. Os investidores têm de ter em conta esta nova realidade», que irá requerer escritórios com maiores espaços e novos usos. É neste cenário que o responsável pela Savills Portugal também antecipa mudanças no retalho, com uma combinação de espaços físicos e virtuais e a combinação de estratégias omnicanal. Mas não esconde que no longo prazo os segmentos que mais vão sofrer são os centros comerciais, os proprietários de hotéizs, os seus operadores assim como os proprietários de terrenos.
Mesmo dentro da tempestade já se reconhecem setores do imobiliário que vão beneficiar com a crise. Na ocasião Francisco Horta e Costa, Managing Director Portugal da CBRE, nomeou os vários vencedores, como é o caso dos ativos em rentabilidade; mercados core, que permitem aos «investidores fugirem do risco»; hubs regionais próximos de grandes cidades; equity buyers; fundos imobiliários “distressed”; family offices que «vão investir mais em imobiliário e terão mais oportunidades»; compradores de terrenos, pois «os preços dos terrenos serão ajustados num cenário em que há dificuldade de obtenção de financiamento para o desenvolvimento de projetos»; armazéns e logística, até porque «para cada 1 bilhão de euros de e-commerce precisamos de 100 mil metros quadrados de espaços logísticos, pelo que precisaremos de muito mais unidades logísticas os próximos anos»; supermercados; retail parks; unidades de saúde; centros de dados; atividades agrícolas; e o mercado residencial especialmente o destinado ao arrendamento.
No mercado residencial, oportunidades ditam investimentos
No que diz respeito ao investimento residencial, um dos temas em grande destaque na tarde desta terça-feira, os especialistas reunidos revelam que são as oportunidades que ditam quando e onde investir, mostrando assim abertura para investir em cidades para além de Lisboa e Porto, e em outros segmentos para além do de gama alta.
O Managing Director Albatross Capital Cristóbal de Castro assume que o objetivo da empresa passa por cobrir todo o segmento residencial. A empresa que formou uma joint venture com a Quântico conta hoje com 14 desenvolvimentos no país, 11 em Lisboa e 3 no Porto, e assume que irá voltar a investir quando encontrar «melhores oportunidades de retornos face aos riscos» no país. «Estamos abertos a diferentes estratégias. Tentamos desenvolver projetos nas melhores localizações, mas ajustamos os projetos às oportunidades que vão surgindo no mercado», explica Cristóbal de Castro que revela ainda que não só pretende investir no segmento de luxo, mas também em habitação para a classe média.
Uma visão semelhante é partilhada por Luís Gamboa COO da VIC Properties. «Nós não olhamos só para projetos grandes como o Prata Riverside Village, também olhamos para projetos mais pequenos com 5,10,20 mil metros quadrados. Tudo é uma questão de oportunidade», afirma. No seu horizonte de investimento estão também outras localizações em Portugal para além de Lisboa: «queremos olhar para outros municípios como o Porto e ao seu redor, Algarve e outros». Quanto ao segmento, Luís Gamboa assume que a VIC Properties «não tem um setor específico» e revela que é no «segmento médio é onde se concentra a procura e, portanto, consideramos esse mercado para crescer».
Por outro lado, Fernando Vasco Costa, Managing Director na Nexity Portugal, revela que a empresa francesa está a estudar outras opções de investir no mercado residencial português, como é o caso do build-to-rent. Este modelo em «França funciona muito bem, colocando à venda 50% da oferta e os outros 50% no mercado de arrendamento. Em Lisboa, estamos a estudar esta possibilidade», tendo em consideração os riscos e incentivos, revela.