Depois um ano de 2017 já excecional, 2018 poderá fechar as contas com um volume investido 74% superior ao do ano (recorde) anterior (1.900 milhões de euros), o que confirma a afirmação de Portugal no panorama de investimento mundial. Este montante é praticamente igual à soma do volume investido no acumulado dos 7 anos compreendidos entre 2008 e 2014.
No ano passado, o retalho representou 45% do capital transacionado, e os escritórios 24%. 94% do investido é de origem estrangeira. Pedro Lancastre, diretor geral da JLL em Portugal, explica que «este ano registámos 15 nacionalidades diferentes: França com 25%(essencialmente alavancada pela compra de centros comerciais pela Ceetrus, Espanha com 20% (essencialmente proveniente de Socimis) Reino Unido e EUA com 20% cada, ambos os país onde estão sediados os grandes fundos de investimento globais».
É de salientar a maior diversificação nos produtos de investimento, incluindo os alternativos, como as residências universitárias ou seniores, e os usos mistos, que já somam 21% do total.
Segundo a JLL, o mercado já é pautado por negócios de maior dimensão, dos quais há que destacar a venda do Lagoas Park por mais de 375 milhões de euros, ou do Dolce Vita Tejo, por mais de 230 milhões de euros, além do portfólio de centros comerciais da Blackstone, que somam mais de 900 milhões de euros, ou ainda do portfólio da Fidelidade, que somou cerca de 425 milhões. Nota ainda para a venda do fundo Imodesenvolvimento e da sociedade gestora Imopolis, por mais de 140 milhões.
No ano que encerrou, os portfólios continuaram a estar na mira de investidores com grande liquidez, ao mesmo tempo que o sistema financeiro português colocou à venda grandes carteiras de ativos próprios (real estate owned assets – REOs) e de crédito malparado (non performing loans – NPLs). O volume total de investimento associado à transação destas carteiras superou os 5.000 milhões, num crescimento superior a 80% face a 2017.
«Temos hoje um mercado imobiliário que merece uma abordagem estratégica por parte dos operadores internacionais, que não é mais visto como um alvo oportunístico. O país provou ter capacidade não só de atrair como de reter o capital estrangeiro, quer estejamos a falar de investimento institucional em ativos de grande porte, de investimento em promoção, na ocupação de escritórios ou na compra de casa. Este é um caminho que já não poderá ser desfeito e que permite ao nosso mercado ganhar escala, porque os tickets médios de investimento em qualquer uma destas componentes são mais elevados que os domésticos», comenta Pedro Lancastre.
“Podemos dizer que o mercado atingiu o pico em 2018”
Pedro Lancastre acredita que 2018 marcou o pico deste ciclo imobiliário. Explica à VI que «o volume extraordinário transacionado durante 2018 deveu-se a diversos fatores: fecho de grandes transações que já estavam em pipeline desde o inicio de 2017; venda de ativos por parte de investidores oportunistas (que entraram no mercado durante a crise) a investidores com perfil mais conservador e de longo prazo (pelo que estes ativos não estarão à venda nos próximos anos)», ou ainda à «diversificação do tipo de ativos para ativos alternativos devido à falta de ativos core e ao retorno mais elevado deste tipo de imóveis».
Nos próximos anos, a falta de oferta será um constrangimento. Se por um lado o apetite dos investidores se mantém, «a oferta é menor. Os centros comerciais implicam grande volume de investimento. A oferta de centros comerciais para venda é assim mais reduzida, pelo que terá um grande impacto no volume de investimento esperado no setor e no volume global».
E completa prevendo para 2019 «um volume menor que o registado em 2018, ainda que continue muito positivo e dinâmico». O responsável prevê que «a possível criação dos REITs em Portugal deverá trazer uma nova abordagem e dinâmica ao mercado no futuro próximo. A Banca continuará a colocar no mercado grandes portefólios de imóveis e de carteiras de crédito, os quais têm sido muito desejados pelos investidores, maioritariamente fundos de investimento globais. Na promoção imobiliária residencial para além dos centros das grandes cidades que continuam com imóveis por recuperar, a atenção agora está também virada para grandes projetos em zonas menos centrais para acomodar as necessidades da classe média nacional. Nos escritórios também iremos assistir a investimento em novos edifícios, quer na região de Lisboa, quer no Porto».