Apesar de inferior ao volume de investimento alcançado em 2015, de perto de 1.900 milhões de euros, 2016 continuou a ser um ano recorde, acima do pico de mercado de 2007, e este foi o 2º melhor resultado de sempre.
Neste ano, o valor médio por transação fixou-se nos 31 milhões de euros, ligeiramente abaixo do valor do ano anterior, mas que continua a quase duplicar a média dos últimos 16 anos. E, se o capital estrangeiro continuou a dominar os investimentos, o peso dos investidores portugueses cresceu, representando já 18% do total. O maior volume de capital foi aplicado no 1º semestre do ano, sendo que a quebra do 2º semestre deverá refletir o impacto do brexit.
Marta Esteves Costa, partner e diretora ibérica de consultoria e research da consultora, acredita que «2017 vai voltar a ser um ótimo ano», até porque «há mais negócios em pipeline a transitar para 2017 do que no ano passado». Eric van Leuven, managing partner da C&W, acredita mesmo que «podemos ter o melhor janeiro de sempre».
Aos jornalistas, este responsável explicou que o brexit terá levado a «uma pausa» na atividade dos investidores, mas vários negócios da consultora acabaram por não ser fechados em 2016 por questões burocráticas, e é, por isso, esperado que se concretizem este ano. «Não há nada de conjuntural a explicar» esta diminuição do volume de negócios, «são atrasos».
A C&W tem em pipeline 6 operações que somam cerca de 300 milhões de euros, cuja conclusão estava prevista para 2016. Um destes negócios trata-se de um portfólio de escritórios no valor de 100 milhões de euros, e outro um portfólio de edifícios da seguradora Tranquilidade, no qual também está envolvida, cujo valor está «entre os 100 e os 200 milhões de euros», avançou o responsável. Em representação do Credit Suisse, a C&W está também a vender o edifício de escritórios ART’s, no Parque das Nações, que deverá representar um valor de 80 milhões de euros.
Os escritórios foram mesmo o setor mais representativo na atividade de investimento no ano que passou, somando 49% do total investido no imobiliário comercial, e um valor de 600 milhões de euros. Os ativos de retalho representaram 45%, a hotelaria 4% e o setor industrial 3%. Entre os principais negócios são de salientar o Campus de Justiça, no Parque das Nações, ou a Torre A das Torres de Lisboa, e o Edifício NOS. Na área do retalho, a maior transação do ano foi a compra da CBRE GIP do AlgarveShopping e do Estação Viana, enquanto parte de um portfólio ibérico de ativos deste género.
Imobiliário português «nunca valeu tanto»
Com as yields de todos os setores em mínimos históricos, «o imobiliário português nunca valeu tanto», notou Marta Esteves Costa. Em dezembro de 2016 as yields prime do mercado imobiliário situaram-se nos 4,90% no caso dos escritórios, 5% para os centros comerciais e 4,75% para o comércio de rua. O setor industrial apresenta maior risco, com uma yield de 6,5%.
Os responsáveis destacam que «há que ter em conta um contexto de taxas de juro bastante baixas, que potencia este comportamento de mercado», no qual o imobiliário é uma boa alternativa de investimento à banca, e cada vez mais escolhida. Apesar de as taxas de juro e de as yields «não terem uma relação direta em Portugal tradicionalmente», quando as taxas voltarem a subir, «tudo pode mudar», alertam, pois «muito dinheiro pode voltar para o setor financeiro».
Mas o facto de o imobiliário estar avaliado em níveis históricos «é bom pela confiança que os investidores têm no país, e é bom para quem vende». Acreditam que, seja como for, «o mercado adapta-se».
Escritórios e retalho com boas performances
No ano passado, o setor dos escritórios de Lisboa somou os 117.000m² colocados até novembro, e a C&W estima que o ano encerre nos 130.000m², aproximadamente. O valor foi inferior ao de 2015, mas «o mercado de ocupação refletiu um dinamismo continuado na procura, que foi limitado pela escassez de oferta». E esta escassez deverá continuar nos próximos anos, já que a promoção de novos espaços continua tímida. A procura «saudável» deverá continuar a crescer, motivada pelas perspetivas positivas para a economia e a correção continuada do desemprego. As rendas deverão subir, devido a estes fatores.
Já o retalho continuou a crescer, seguindo o seu percurso continuado desde 2013, apesar de o volume de vendas ainda não ter atingido o máximo de 2010. A recuperação sente-se também não só nas localizações prime, mas também nos centros comerciais e nas ruas/cidades secundárias, sendo que a restauração é a principal aposta, representando 38% da absorção.
Este ano, deverão inaugurar o Mar Shopping Algarve, em Loulé, e o Évora Shopping, em Évora. O mercado deverá continuar a sentir as estratégias de expansão dos retalhistas já instalados.