As taxas de juro historicamente baixas e as melhorias económicas estão a refletir-se na opção por compra de casa própria, o que já fez com que o crédito concedido tenha praticamente duplicado em 2 anos. Segundo a Renascença, em 2015 os bancos emprestaram uma média de 334 milhões de euros por mês para compra de casa, que comparam com os 193 milhões de euros de 2014 e com os 170 milhões de 2013.
No entanto, na comparação com o valor concedido antes da crise ainda, os valores são ainda muito diferentes. Entre 2004 e 2007, os bancos emprestavam mais de 1.000 milhões de euros por mês para a compra de casa, com o recorde a ser atingido em julho de 2007, com 1.800 milhões de euros concedidos só para compra de casa.
De salientar ainda que, em dezembro, o crédito malparado no segmento da habitação ascendia a 2.480 milhões de euros, valor semelhante aos 2.500 milhões de euros do mesmo mês de 2014, 2,54% do total do crédito concedido à habitação.
Juros negativos devem manter-se até 2019
Até 2019, as taxas Euribor deverão manter-se na sua rota negativa, de acordo com os sinais do mercado analisados e apontados pela Bloomberg na semana passada. O cenário não deverá mudar antes de junho de 2019.
Esta previsão contrasta com a perspetiva de subida das taxas já em 2017 registada há poucas semanas – uma expetativa que se forma tendo em conta apenas o sentimento dominante do mercado, que está agora mais pessimista e na qual pesa o possível desfecho da próxima reunião de política monetária do Banco Central Europeu, que acontece daqui a 2 semanas. Segundo o Económico, os especialistas esperam novo reforço das medidas de estímulo económico para a zona Euro, e há consenso crescente de que os próximos passos passarão pelo aumento do montante mensal do programa de compra de ativos, bem como por uma nova descida da taxa de juro de depósito do BCE dos atuais -0,3%. Quem beneficia imediatamente é quem tem crédito à habitação.
Há que ter em conta que, no entanto, com taxas historicamente baixas (um dos fatores que mais tem atraído as famílias portuguesas numa cultura muito forte de casa própria), negativas inclusive, a subida será inevitável. A Deco alerta para este fator e lembra que, apesar das melhorias, continua a receber pedidos de ajuda de várias famílias com dificuldade em cumprir com as suas obrigações mensais para com o banco.
Bancos tentam compensar
Perante um cenário de taxas baixas, grande parte das famílias portuguesas está praticamente só a amortizar o seu crédito, sendo que os bancos têm agora lucros historicamente baixos. Por isso, muitas instituições presentes em Portugal começam a querer fazer contratos apenas com a Euribor a 12 meses, indexante até agora pouco usado no mercado.
Por outro lado, os novos spreads continuam a aumentar e chegam já a um máximo de 5,8%, como era o caso do Novo Banco no início do mês, divulgou o DN. O mínimo praticado era de 1,87%. Nos preçários da CGD, BCP, BPI, Santander Totta, Novo Banco, Montepio, Barclays, Banco Popular e Crédito Agrícola havia apenas valores disponíveis para empréstimos com Euribor a 12 meses.
Especialistas não aconselham taxa fixa
A opção por ter uma taxa fixa está a ser posta em cima da mesa por muitos bancos, mas os analistas avisam que, pelo menos para já, não valerá a pena, sendo uma alternativa mais vantajosa a longo prazo.
Isto porque a Euribor vai permanecer negativa nos próximos meses, e vai cair mais de 10 euros já em março, para os empréstimos indexados à Euribor a 6 meses (numa simulação de um empréstimo de 150.000 euros a 30 anos), com o novo recorde mínimo foi batido esta semana, de -0,129%. A taxa a 12 meses está nos -0,017%.
A opção pela taxa fixa poderá ser uma boa opção a longo prazo, mas se for adotada já os clientes perderão dinheiro, avisam os especialistas citados pelo DV. «As taxas de juro estão a mínimos históricos e não vão subir tão cedo. Nos próximos três a quatro anos, vamos continuar com taxas baixas, e mesmo em terreno negativo, não haja a menor dúvida», explica João Pereira Leite, diretor de investimentos do Banco Carregosa.
A Deco também alerta que «neste momento, a taxa variável continua a ser muito mais vantajosa», explica Nuno Rico, economista da associação de defesa do consumidor.