Sentimento desafiante abre portas a oportunidades no setor dos escritórios

O setor de escritórios foi objeto de análise e discussão. As novas tendências de trabalho pós-pandemia e o impacto do teletrabalho, bem como a forma como as empresas em diferentes geografias estão a reagir e o seu impacto para os investidores, foram temas em destaque no Almoço-Conferência organizado pela Vida Imobiliária, em parceria com a APPII, sob o mote "Investir em escritórios – as tendências internacionais, os mitos e a realidade!".«Vivemos atualmente num período em que os sentimentos se entrelaçam com dados e realidade, e o sentimento predominante, tanto por parte das empresas como dos investidores em relação aos escritórios, é bastante negativo; no entanto, acreditamos que esta situação também abre oportunidades claras no setor», assinalou Adolfo Ramirez-Escudero, presidente da CBRE Espanha e LATAM, na sua apresentação, dividida em três grandes pontos: mercado, procura e oferta.«Viemos de uma década de taxas de juro historicamente baixas, possivelmente atravessamos um dos períodos em que o custo do financiamento foi o mais baixo da história recente da economia na Europa. Isso mudou de forma muito rápida», lembra Adolfo Ramirez-Escudero.Em termos de ajuste dos preços ou valores dos ativos comerciais, como é o caso dos escritórios, o responsável salienta que «ainda não concluímos o processo de correção nas avaliações e é desafiador determinar exatamente onde nos encontramos nesse processo. Diria que estamos além da metade, mas certamente não ultrapassamos 75% do processo de correção. Isso é relevante, especialmente se considerarmos um setor de escritórios que precisa de ajustes de preço devido às mudanças nas taxas de juro. Em particular, um mercado prime que verá uma diminuição nos volumes até que os preços se estabilizem, e sabemos que a correção ainda está a meio caminho».Adolfo Ramirez-Escudero nota que «estamos num período de menor atividade na angariação de capital no setor imobiliário global. A captação média caiu, o que implica uma redução significativa de recursos. Nesse contexto, a pressão por maior rentabilidade aumenta, enquanto enfrentamos desafios na procura, na oferta e nas necessidades, possivelmente representando o maior esforço de investimento no setor de escritórios das últimas décadas».Flexibilidade é palavra de ordemNo que diz respeito à procura, um aspeto particularmente interessante a realçar é a necessidade de flexibilidade. «A flexibilidade tornou-se um elemento estrutural devido às crescentes exigências de espaço. Há uma década, uma empresa solicitava apenas 4% de espaço flexível para um total de 10.000 metros quadrados, mas agora, a média de empresas a nível internacional, não apenas na Península Ibérica, requer cerca de 20% de espaço com algum grau de flexibilidade».A redução na procura de espaço é, em parte, devida ao ciclo económico, explica o responsável pela CBRE Espanha e LATAM. «Esta é a tendência que estamos a observar: prevê-se uma redução de cerca de 20% na procura por espaços de escritório na Europa este ano, uma tendência que se verifica de forma consistente em todos os mercados», revela."Estamos a assistir a uma segmentação do mercado "Temos menos procura, pois também «estamos a assistir a uma segmentação do mercado: a nova procura não está a dirigir-se para espaços periféricos, mas sim para o centro das cidades, onde novos escritórios e construções estão a emergir». Na realidade, «enfrentamos uma escassez deste tipo de produto nos centros urbanos, o que significa que parte da redução na procura também se deve à falta de oferta. Apesar da oferta ser limitada, a procura mantém-se devido a decisões adiadas ou a atrasos na publicação de projetos recentes. Tudo isto, de alguma forma, leva-nos a considerar possíveis implicações no futuro», explica Adolfo Ramirez-Escudero.Escritórios que visam a valorização de talentoPor outro lado, o orador sublinha que «é preciso ter em mente que iremos investir mais num escritório com uma componente expandida, visando a valorização do talento. Este espaço deverá permitir uma maior interação social, incluindo serviços de saúde, para complementar e substituir atividades não relacionadas com o trabalho durante os tempos livres. Além disso, é fundamental fomentar a colaboração e o trabalho conjunto». Neste seguimento, estamos perante um setor que «necessitará de uma profunda transformação».Como são os novos edifícios e a que novas necessidades estão os novos edifícios a responder?Na segunda apresentação da conferência, Miguel Santana, da Fidelidade Property, desvendou os detalhes de uma nova sede corporativa – o projeto de Entrecampos – no coração da capital portuguesa. O novo megaprojeto imobiliário, que vai nascer nos terrenos da antiga Feira Popular de Lisboa, contemplará edifícios de habitação, escritórios e comércio."Um projeto pensado para a comunidade"No que diz respeito aos escritórios, o projeto de Entrecampos vai acolher até 14.000 utilizadores diariamente, com ligações de transporte totalmente integradas já instaladas. Os escritórios vão estar em conformidade com grade A ESG, sendo pioneiros na certificação LEED Gold em Portugal. Quanto à componente residencial, vão nascer 249 novos apartamentos (T0 a T5 Duplex) de alta qualidade, de 47 a 390 metros quadrados GPA. Já a componente de retalho, o objetivo passa por ser um destino de compras/restauração/lazer de Lisboa: uma experiência comercial multi-camadas ao ar livre/interior, totalmente integrada num parque público de 17.000 metros quadrados.Como os escritórios de Entrecampos se destacam num ambiente desafiante?O projeto de Entrecampos está estrategicamente situado junto a uma Plataforma de Transportes com Mobilidade Totalmente Integrada, funcionando como a porta de acesso ao CBD e ao seu potencial transformador. Sendo o primeiro «projeto de escala genuína no centro de Lisboa», este empreendimento torna-se num «novo ponto de encontro» para o mercado e preenche a lacuna na malha urbana, «elevando o bairro existente a um nível superior», tudo isto num design «cuidadosamente pensado para a comunidade, sem espaços fechados».A componente residencial «está avançada, já começámos a construção» e, posteriormente, «vamos seguir para a componente de escritórios», revela Miguel Santana, acrescentando que estão «muito dependentes dos licenciamentos».

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