É nisto que concordam os vários players turísticos que participaram no mais recente Webcast realizado pela Worx na última quinta-feira, focado no turismo e nos impactos da pandemia da Covid-19 no setor.
José Roquette, CDO do Grupo Pestana, acredita que a estratégia de abertura é um dos maiores desafios para os hotéis neste momento, numa altura em que «temos de perceber o que vai mudar», estando certo de que «até à vacina vamos viver em incerteza».
O responsável acredita que é preciso perceber o impacto que o transporte aéreo teve no turismo e no seu crescimento nos últimos anos, além da interdependência entre os vários países: «se Portugal tiver selo de qualidade, os clientes ingleses podem não ter. não podemos olhar só para Portugal».
Já Jorge Rebelo de Almeida, Presidente da Vila Galé, está certo de que, por medo ou impossibilidade, «muitas pessoas terão limitações em ir de férias», e isto é tanto mais importante quando «a atividade turística se resume à confiança».
Admite que esta crise é muito diferente da anterior, mas está convicto de que «vamos ter de ir para a rua de forma controlada, cautelosa, de máscara. Temos de voltar à vida». E a Vila Galé tem «planos de reabertura para junho».
Mesmo navegando na incerteza, a Vanguard Properties não mudou os seus planos de investimento, em particular para a Comporta, onde segue a preparação da infraestrutura: «tem todas as condições para continuar a ser um projeto viável, apesar desta situação», diz José Cardoso Botelho, Executive Director da promotora.
Está convicto de que «a recuperação será mais rápida do que se pensa. E a segunda habitação vai ser uma área em crescimento».
Incerteza: “palavra nada boa” para o investimento
Os próximos meses serão seguramente de incerteza para o mundo em geral e para o turismo em particular, uma «palavra nada boa para os investidores», segundo o advogado e comentador Luís Marques Mendes.
E num cenário de «crise seríssima» destaca duas incógnitas em particular: a incerteza quando a um novo surto, e a existência de uma vacina. «Até ao verão do próximo ano poderemos viver com esta incerteza, e isto é difícil para os investidores».
Considera que as medidas já aplicadas pelo Governo têm sido pertinentes e positivas, como o lay off simplificado, mas alerta que «estamos a acrescentar endividamento a um problema de endividamento elevado. Parte dos apoios deveria passar a fundo perdido mais tarde. A Alemanha por exemplo tem apoios desse género».
Certo é que «o turismo poderá ser o último setor a recuperar em pleno» desta crise, o que «pode ser um drama para um país como Portugal, onde representa 15% do PIB». Mas a boa gestão da pandemia «pode ser um ativo a nosso favor», a somar à segurança.
Por seu turno, João Vieira Pereira, diretor do Expresso, destaca que o «impacto económico é completamente imprevisível» e que «não sabemos como vamos sair do túnel», além das incógnitas de como será no futuro a economia de partilha, o transporte aéreo ou os grandes eventos.
Acredita que «vamos ter uma recuperação gradual do turismo, e isso pode dar-nos tempo para trabalhar novas alternativas», esperando «que os empresários sejam capazes de responder rapidamente às alterações do mercado».
Austeridade avizinha-se
José Roquette acredita que «teremos de contar com austeridade no setor público em geral e também nas nossas empresas, serão tempos difíceis em que será necessário apertar o cinto».
Da mesma opinião é António Ramalho, CEO do Novo Banco, segundo o qual as novas medidas de apoio já anunciadas pelo Governo «gerem o sacrifício de uma forma relativamente adequada».
Nos próximos tempos, acredita, «teremos de partilhar responsabilidades numa recessão disciplinar. Precisamos de convidar as nossas empresas a abrir ao mercado de forma disciplinadamente predadora», dando o exemplo de «pequenos comerciantes a abrir as suas portas, companhias aéreas com 25% da ocupação, hotéis com 25% a 40%, um conjunto de disciplinas estruturadas que não tornam as operações rentáveis». No final do processo, «podemos ter empresas mais endividadas, cidadãos com insuficiência de fundos, e ter uma grande quebra dos fluxos financeiros».
Mas António Ramalho está convicto de que «os ativos do turismo são inatacáveis, preservam-se no sistema».