É esta a opinião de Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, que falava à VI no Conversas Diárias – Especial Covid-19, dando nota de que «há uma perspetiva credível de o mercado poder regressar a um patamar saudável “pré-covid”, seja ele qual for». Mas há necessidade de «olhar para as medidas que viabilizaram o bom ciclo anterior. Se funcionaram nesse ciclo até que ponto podem ser úteis num novo relançamento?», questiona.
O especialista acredita que é fundamental que sejam criadas «políticas e um ambiente de confiança, para que o potencial de um “dia bom” para o mercado se concretize», em especial no que toca ao investimento imobiliário. Os números da Ci mostram que, no final de 2019, já existiam sinais de abrandamento e até de descida do investimento nos centros de Lisboa e Porto, o que «resulta do processo natural do ciclo de mercado, do nível de preços, mas também da incerteza que o mercado foi sentindo ao nível legislativo», nomeadamente com as alterações anunciadas ao regime dos “golden visa”.
Retoma em 12 meses
De acordo com o Housing Market Survey de março, levado a cabo pela Ci, e que tenta perceber o sentimento do mercado face ao futuro próximo, os operadores revelam uma «expetativa pessimista» no imediato, e acreditam que o mercado «vai traduzir a situação em que estamos todos, com forte redução de número de vendas e com condicionamentos nos negócios».
No entanto, e porque é também importante olhar para o longo prazo, importa «perceber quando será o início do fim da “crise covid”». Os agentes de mercado inquiridos acreditam que o mercado levará cerca de 12 meses até que o número de vendas atinja os níveis registados antes da pandemia, e cerca de 14 meses até voltar ao mesmo nível de preços.
Ricardo Guimarães explica que o mercado «não poderá voltar ao ponto de partida como se nada tivesse acontecido, mas a expetativa dos operadores é que um ano depois do início da crise o mercado possa estar no mesmo patamar».
Do alojamento local para o arrendamento
Perante a paragem do turismo, é de esperar a transferência de alguns imóveis o mercado do alojamento local para o arrendamento tradicional, já que «o vai passar por uma época de baixa rentabilidade, e haverá também alguma redução de rendas dadas as restrições de rendimentos do lado das famílias», prevê Ricardo Guimarães.
Refletindo sobre os últimos meses, explica que «a subida de rendas que se tem registado em Lisboa e Porto tem resultado da concorrência que existe entre os diferentes usos, nomeadamente residencial e não residencial, ou seja, formas de ocupação que geram mais rendimento». O inverso pode agora acontecer.
Até porque, nos anos da crise anterior, entre 2011 e 2012, o mercado de arrendamento «ganhava em oferta e procura numa fase de falta de liquidez no mercado de compra e venda, isso transformou-se em boas notícias para o arrendamento». Se isso voltar a acontecer, «será normal esperar que esse ciclo se possa reverter quando começar a haver sinais mais positivos no mercado de AL».