A convite da JLL Portugal, os responsáveis falaram esta quarta-feira sobre os desafios que se abrem à Europa e a Portugal na saída da pandemia, com especial enfoque no setor imobiliário, partilhando várias pistas que deverão orientar as estratégias das empresas na retoma.
No entender de Christian Ulbricht, «comparar esta crise que estamos a viver com a grande crise financeira de 2008/09 não é uma abordagem correta. A primeira decorreu da falta de confiança no sistema financeiro, enquanto que esta decorre do medo que as pessoas têm em relação ao seu estado de saúde; e, portanto, têm motivações completamente diferentes, pelo que os seus resultados serão também certamente diferentes». A seu ver, «não é ainda possível sequer prever quais serão as consequências reais da pandemia, pois tudo irá depender em primeiro lugar da severidade do confinamento, além de que no final de contas todo este medo só poderá ser resolvido quando houver uma vacina; e esse sim, é que será o principal vetor para a recuperação, pois só quando esta estiver acessível é que poderemos retomar a nossa vida norma!».
Uma visão alinhada com a de Carlos Moedas, como reconheceu o ex-Governante, que considera que «estamos a atravessar o período mais problemático das nossas vidas. E, ao contrário de muitos opinion makers, creio que uma das poucas coisas que sabemos nesta fase é que dentro de 300 ou 400 anos as pessoas ainda se irão lembrar deste episódio histórico». Reiterando que «esta não é de todo uma crise como a anterior», o Ex-Comissário Europeu nota, contudo, que existem algumas lições de monta que ficaram da última crise, e que poderão ser decisivas nesta fase: «velocidade e escala, são as duas coisas essenciais para alavancar a recuperação de uma crise que grassa Europa. Por agora, sabemos que o BCE e o Eurogrupo estão a agir mais rápido do que em 2009, o que é bom, mas não sabemos, contudo, se estão a agir com a escala necessária ao cenário que enfrentamos. Por isso, aguardo com grande expetativa para saber quais as medidas que serão apresentadas nos próximos dias pela Comissão aos Chefes de Estado, pois terão um impacto económico enorme no curto-prazo».
Em todo o caso, diz ainda, «uma coisa interessante que a experiência nos mostra é que no rescaldo de uma grande crise, a Europa acaba por fortalecer-se, criando novos mecanismos e ferramentas comuns de grande importância», e deu alguns exemplos, como o Fundo de Resolução da Banca que viria a nascer após a grande crise financeira, ou o sistema europeu de prevenção e combate aos incêndios, que viria a ser criado no decorrer da catástrofe decorrida no nosso país em 2017. Posto isto, conclui Carlos Moedas: «uma das coisas que aprendemos para o futuro é a necessidade de uma resposta europeia comum e coordenada para situações de crise como a que vivemos, e que pode advir não só de uma pandemia, mas também, por exemplo, de um ataque cibernético». Alertando que estas são ameaças reais, o ex-Comissário conclui que «esta é uma grande oportunidade para a Europa acelerar ainda mais a inovação».
Da mesma forma, e no que ao imobiliário diz respeito, esta é também a hora de investir mais na sustentabilidade e na digitalização pois, acrescenta Christian Ulbrich, estes serão essenciais para aumentar a perceção de segurança das pessoas em relação à forma como diariamente se movimentam, vivem e trabalham. «Se quisermos que as pessoas regressem aos escritórios, centros comerciais e afins, temos de conseguir garantir um ambiente de segurança e um nível de bem-estar muito elevado, de modo as que os seus utilizadores se sintam confiantes e em segurança». Além disso, quando a atividade económica ficou em stand-by de um momento para o outro «o proptech sofreu um enorme impulso e está a transformar o negócio imobiliário a um ritmo ainda mais alucinante. Esta é uma tendência que já não vai parar e para a qual a inovação terá de ser uma presença obrigatória».
A tecnologia é, aliás, uma das cinco macrotendências que, juntamente com o outsourcing, o investimento, a urbanização e a sustentabilidade nos permitem obter algumas pistas como o crescimento irá voltar ao setor imobiliário no pós-Covid, advoga o CEO Global da JLL. «Esta crise veio mostrar-nos o quão frágil é o nosso mundo. E, mais do que nunca, daqui em diante temos de criar a nossa prosperidade económica a partir de um mundo mais sustentável, e acho que esse aspeto irá prevalecer no futuro», conclui Christian Ulbricht.
Por tudo isto, Pedro Lancastre, diretor-geral da JLL no nosso país, não tem dúvidas que «este é o momento chave para definirmos como vamos agir no futuro», o que implicará «reimaginar a forma como vivemos e trabalhamos, como projetamos as nossas casas e escritórios, mas também como poderemos investir e colocar prego a fundo na digitalização do nosso negócio, visto que hoje esta já não é uma opção, senão o caminho obrigatório».