Construção "digital" precisa de mais standards para seguir

Construção "digital" precisa de mais standards para seguir

 

A Plataforma Digital da Construção foi tema do EU Industry Day, uma conferência organizada pelo Cluster – AEC, que decorreu no LNEC a 21 de fevereiro, no âmbito da comemoração da Semana da Indústria Europeia.

Falando na mesa redonda de debate em torno deste tema, António Aguiar Costa, coordenador da CT 197 – BIM, reforçou a importância da «consistência da normalização BIM» num mercado português ainda atrasado nesta mudança para a construção “digital”. «A normalização é importante porque de repente temos muita gente a trabalhar de forma diferente, e muitas mudanças no ambiente construído que se pretende, bem como na gestão dos edifícios». Por isso, «toda a cadeia tem de estar a trabalhar no mesmo sentido. Temos de estruturar e qualificar a informação». Aguiar Costa considera «importante e incontornável» que a implementação destes sistemas seja feita pelo Governo, de forma centralizada, «tal como acontece com a contratação pública».

Portugal já tem bases para que isto aconteça, até porque é «um país amante da tecnologia», e vê a sua indústria «reconhecida lá fora», realça José Carlos Lino, presidente da NEWTON. «A construção muitas vezes não vê a praticidade da adoção destas novas ferramentas, mas temos tido boas surpresas, e muitas construtoras a implementar BIM no exterior». Acredita que a indústria precisa «de regras definidas e enquadradas, daí a importância da normalização».

Participando na mesma mesa redonda, o arquiteto João Luís Carrilho da Graça acredita que «estamos sempre limitados na capacidade prática de disponibilizar estes sistemas e meios, pois não temos fácil acesso aos mesmos».

A impressão 3D foi também uma das questões abordadas neste debate, uma ferramenta que, apesar de ser usada há muitos anos, tem vindo a sofrer grandes avanços tecnológicos e a nível de materiais. Bem como a inteligência artificial, outra das questões colocadas a nível de futuro, que Augustin Olivier, Adjunto da Administração do INESCTEC, comentou lembrando que não é coisa do futuro e sim do presente, pois está presente em qualquer computador no seu uso regular. Mas, lembrou Aguiar Costa, «as pessoas são sempre o centro da questão, há sempre uma dimensão de aprendizagem e necessidade de ultrapassar o receio da transformação».

Arlindo de Oliveira, presidente do IST, Paulo Martins, administrador do Grupo INCENTEA e Rita Moura, presidente do Cluster AEC, foram outros dos participantes neste debate. Manuel Caldeira Cabral, Ministro da Economia, encerrou a sessão, destacando que «hoje Portugal exporta arquitetura, engenharia e construção de alta qualidade e reconhecidas internacionalmente tendo capacidade de realização de projetos mesmo em países desafiantes, com um baixo nível de desenvolvimento, graças à nossa adaptabilidade. Este setor tem contribuído para a afirmação do nosso país, lá fora, de forma muito forte».

Por outro lado, e em relação à digitalização da construção e ao BIM, comentou que «a indústria da construção é muito complexa pois tem que articular engenheiros e arquitetos, já habituados a trabalhar em ambientes digitais, com outros atores desta indústria, como empresas subcontratadas e fornecedores de materiais que ainda estão a reagir a esta mudança. No entanto, a integração destes diferentes “players” irá trazer grandes ganhos de eficiência. A terminologia 4.0 vai mais além do que apenas relativamente aos novos materiais que vão surgindo, existindo já empresas portuguesas a utilizar esta tecnologia em pontes, reduzindo o tempo e os custos de construção».