Energia

25 anos ADENE: Agência renova compromisso com a transição energética

A ADENE assume-se com energias renovadas para os próximos 25 anos: “não há transição energética sem uma ADENE forte. E não há uma ADENE forte sem cada um de nós. Se juntos fizemos os últimos 25 anos, imaginem o que podemos fazer a partir de hoje”

Ana Tavares 08 Outubro 2025

A ADENE celebra este ano os seus 25 anos de atividade, e assinalou a efeméride com uma conferência dedicada, que se realizou a 29 de setembro, na Nova SBE, em Carcavelos.

Na abertura do evento, Nelson Lage, presidente da ADENE, recordou que “em 2020, entrámos numa ADENE quase vazia, com um enorme clima de incerteza no ar. Tive receio, mas decidi confiar, e a confiança é contagiosa. Os colaboradores confiaram também na sua equipa de gestão, na nossa missão e nas nossas ideias, e juntos construímos uma nova ADENE”.

“Hoje, somos mais dinâmicos, mais humanos. Somos modernização, quem ajuda e quem resolve, o elo entre as metas europeias e as ações do Governo”, afirmou o responsável, recordando o papel da rede Espaço Energia e o apoio direto que dá aos cidadãos.

“O que mais me entusiasma são os próximos 25 anos”, afirma Nelson Lage, destacando “uma ADENE mais colaborativa, mais digital, motor de uma transição energética justa e inclusiva. Porque a transição energética não acontece sozinha, precisa de governos, colaboração institucional, cidadãos, academia, de quem acredita que o futuro pode ser mesmo melhor. Não há transição energética sem uma ADENE forte. Não há transição energética sem uma ADENE forte. E não há uma ADENE forte sem cada um de nós. Se juntos fizemos os últimos 25 anos, imaginem o que podemos fazer a partir de hoje”, concluiu.

Nelson Lage, presidente da ADENE
Nelson Lage, presidente da ADENE

“Um quarto de século de políticas de energia em Portugal”

Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente e da Energia, marcou presença na abertura do evento, assinalando a celebração não só dos 25 anos da criação da ADENE, mas também “um marco nas políticas energéticas do país. As políticas focadas na produção de energia passaram a colocar os consumidores no centro das decisões. Foi no ano 2000 que o engenheiro António Guterres, então primeiro-ministro, teve essa iniciativa de criação da agência, dando início a estas políticas”. Por isso, “ao assinalarmos os 25 anos da ADENE, também celebramos um quarto de século das políticas de energia em Portugal”.

Para a ministra, “se há setor onde tem existido um ‘pacto de regime’ é na energia. Tem havido compromisso e coerência na aposta nas energias renováveis. Portugal fechou o ano de 2024 com 71% de toda a energia elétrica proveniente de fontes renováveis, esta percentagem será de 80% em 2030 e poderemos até antecipar a meta para 2026”.

“Sabemos o que o país fez até agora, e estamos cientes dos desafios e trabalho que temos pela frente. Olhamos para o futuro do setor da energia em Portugal, e sabemos que a segurança é um dos desafios mais premente. As metas da sustentabilidade são o fio condutor de todas as nossas políticas, e Portugal precisa de continuar a investir nas energias renováveis, não apenas para a produção da eletricidade, mas também na descarbonização de todos os setores”. A ministra recordou os novos apoios para os consumidores industriais mais intensivos (que passou de 100 para 275 milhões de euros) e o lançamento dos programas E-Lar e Bairros + Sustentáveis. “Estas políticas serão reforçadas pelo Fundo Social para o Clima, promovido pela União Europeia. O nosso objetivo é que Portugal ganha com esta corrida, e contamos com todos”.

Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente e da Energia
Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente e da Energia

Jean Barroca, Secretário de Estado Adjunto e da Energia, fez menção a “uma instituição que tem sido um dos elementos na construção de um Portugal mais eficiente, mais sustentável e mais justo. A ADENE tem estado na onda da transformação energética do nosso país, e é referência no Sul da Europa. Tem sido ponte entre o cidadão e a energia, promovendo informação clara, incentivando o autoconsumo, combatendo a pobreza energética. Contamos hoje com o compromisso de todos os que fazem parte da ADENE. O futuro começa hoje, com instituições fortes, ágeis e humanas. Portugal está pronto”.

Jean Barroca, Secretário de Estado Adjunto e da Energia
Jean Barroca, Secretário de Estado Adjunto e da Energia
Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais
Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais

Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, o município que acolheu o evento, reforçou que “o poder autárquico tem de assumir outro tipo de participação e interesse” nas questões energéticas e da sustentabilidade, e que a autarquia tem apostado nisso mesmo. “Temos tido uma preocupação grande com a multiplicação de cada euro de investimento”. A transição energética “é um caminho que, como todos, se faz caminhando. E nós já vamos com segundos e terceiros passos, espero que continuemos nessa senda”.

Caminho de Portugal na descarbonização "é uma fonte de inspiração"

Paula Abreu Marques, Chefe de Unidade e vice-diretora da Direção-Geral de Energia da Comissão Europeia (em representação do Comissário de Energia e Habitação, Dan Jørgensen), assinalou os “grandes avanços dos últimos anos, que permitiram uma grande cooperação entre estados, dos quais nos devemos orgulhar” e que “o caminho de Portugal na descarbonização é uma fonte de inspiração. Chegámos aqui graças ao trabalho incansável de instituições como a ADENE”. Citando Mario Draghi, defende que “a descarbonização é o melhor caminho para a Europa atingir a sua independência energética”, e avançou que “estamos a trabalhar numa série de propostas a apresentar já no próximo ano, para acelerar a eletrificação e descarbonização da indústria, medidas para os cidadãos, e medidas para combate à pobreza energética".

Paula Abreu Marques, Chefe de Unidade e vice-diretora da Direção-Geral de Energia da Comissão Europeia (em representação do Comissário de Energia e Habitação, Dan Jørgensen)
Paula Abreu Marques, Chefe de Unidade e vice-diretora da Direção-Geral de Energia da Comissão Europeia (em representação do Comissário de Energia e Habitação, Dan Jørgensen)

Transição não se faz sem os países em desenvolvimento do Sul

Jorge Moreira da Silva, subsecretário-geral da ONU e diretor executivo da UNOPS, também foi um dos oradores convidados desta conferência e, na sua intervenção, lembrou para a importância de abordar o tema da energia sempre em estreita ligação com o ambiente, mas também com a educação ou a igualdade. Porque “a energia é um ‘game-changer’ nas alterações climáticas, já que 75% das emissões são oriundas dessa área”. Não duvida que “é impossível erradicar a pobreza sem colocar a energia no centro das decisões, e é impossível cumprir os objetivos de desenvolvimento sustentável sem envolver a energia”.

O especialista apontou o grande investimento que se tem feito nas energias renováveis em todo o mundo, principalmente no Norte global, e que 90% das energias renováveis já são as mais baratas. “São determinantes na sustentabilidade ambiental e também a melhor forma de assegurar acesso a energia segura e acessível”. Mas apontou falhas do mercado, que “exigem uma abordagem inconformista”, nomeadamente o acesso à energia, numa altura em que 1/3 da população mundial ainda cozinha queimando resíduos ou lenha, e 700 milhões de pessoas não têm acesso a eletricidade. “E o mais paradoxal é que o continente com maior potencial, África, é o que menos investe, nomeadamente em solar. É uma falha de desigualdade”.

“Outro grande problema é que estamos na direção certa com a velocidade errada. Não há espaço para conformismo ou triunfalismo. Se quisermos honrar o acordo de Paris e sermos consistentes com 1,5 ºC até ao final do século, precisamos de metas que nos coloquem nessa trajetória”, o que não acontece atualmente. Alertou ainda para a necessidade de investimento na rede elétrica dos países em desenvolvimento. “As redes costumam ser propriedade dos Estados. Como é que pedimos a países em desenvolvimento, com pobreza extrema e endividados, que façam, sozinhos, este investimento nas redes? Armazenamento e redes são áreas centrais, apesar de menos apelativas. Sem aposta nas redes e no armazenamento, não vamos vencer”.

Seja como for, não duvida que “a energia é um fator determinante de justiça social, e a falta dela é um acelerador da fragilidade nestes contextos”, dando inclusive o exemplo do hospital europeu em Gaza, onde chegou a estar presente. Aqui, só a energia solar sobrou depois dos vários bombardeamentos e depois de acabar o diesel dos geradores ou de ser impossível reparar os mesmos. “Principalmente em contextos de conflito, a energia pode fazer toda a diferença”. 25% da população mundial vive hoje em zonas de conflito, e é determinante o apoio a esses países. “Precisamos de cooperação para o desenvolvimento. Porque o Norte até pode ser todo ‘verde’, que não nos servirá de nada se não ajudarmos os países do sul. Tudo se joga na solidariedade”.

Jorge Moreira da Silva, subsecretário-geral da ONU e diretor executivo da UNOPS
Jorge Moreira da Silva, subsecretário-geral da ONU e diretor executivo da UNOPS

Segurança energética “é mais importante do que nunca”

Com o grande (e previsível) aumento das necessidades de eletricidade em todo o mundo, a par das alterações climáticas galopantes e dos desafios e tensões geopolíticas atuais, “a segurança energética é hoje mais importante do que nunca. É quase tão importante como a segurança nacional ou económica”, defendeu Fatih Birol, Diretor Executivo da AIE – Agência Internacional de Energia, na sua intervenção. “Quanto mais diversificadas as fontes de produção de energia, melhor”.

Ao mesmo tempo, é necessária previsibilidade (fiscal, legislativa, etc) “para não assustar os investidores”, bem como “cooperação internacional. Porque nenhum país é uma ilha energética e as emissões não têm fronteiras, o mundo é um só. É crucial encontrar os parceiros certos para garantir a diplomacia energética”. E considera que Portugal tem feito “um excelente trabalho nestas áreas”.

Fatih Birol, Diretor Executivo da AIE – Agência Internacional de Energia
Fatih Birol, Diretor Executivo da AIE – Agência Internacional de Energia

“Temos de acelerar”

Esta conferência incluiu uma “Mesa-redonda de Alto Nível” sob o mote “25 Anos de Energia – Política, Poder e Futuro”, moderada por José Pedro Frazão, da Rádio Renascença. Participando nesta ocasião, João Pedro Matos Fernandes, ministro nos XXI e XXII Governos Constitucionais, recordou os passos importantes que se deram nas últimas décadas para dinamizar as energias renováveis, e “uma UE que era pouco amiga de uma transição deste género”. Destacou que Portugal “tem a ventura de poder gerar 100% da eletricidade que consome. E deve eletrificar mais e apostar os recursos que puder”. Principalmente, num contexto em que a Europa deve ser firme perante “discursos irracionais” do presidente dos Estados Unidos da América. “Hoje é necessária uma Europa com mais convicções, e há um conjunto de ações que estão completamente por executar”. Seja como for, o mais importante “é nunca voltar atrás”.

ADENE
ADENE

Artur Trindade, Secretário de Estado nos XIX e XX Governos Constitucionais, recorda o trabalho “difícil” de assegurar que as energias renováveis eram prioridade no acordo assinado com a troika em 2011. “Fizemos um grande esforço para aproveitar essa oportunidade e traçar um rumo mais competitivo”. Mas agora, “temos de acelerar. A quantidade de capital necessário para que as coisas aconteçam é enorme e, na minha opinião, não é possível fazê-lo só com dinheiro público. Porque sem investimento privado não vai haver transição energética (…)”, e tal como Jorge Moreira da Silva, concorda que “temos de encontrar formas de investimento efetivo nos países em desenvolvimento. Em termos de comunidade, vale mais investir 1 euro em África do que 1 euro na Europa, e essa cooperação internacional deve ser um objetivo da política energética, ambiental e climática”.

Ao mesmo tempo, "temos de melhorar horizontes de estabilidade regulatória e de investimento institucional, para avaliar melhor o risco, ter mais visibilidade e cooperação internacional”. Chamou ainda à atenção para a regulação “excessiva em detalhe” da União Europeia. “Deveria focar-se apenas nos grandes princípios orientadores”.

Para Assunção Cristas, Ministra nos XIX e XX Governos Constitucionais, “fazer as coisas de forma ágil, mas cumprindo as regras é o nosso maior desafio, e precisamos de mais rapidez e apoio ao investimento ‘à cabeça’. A UE tem de ter capacidade para acomodar os casos especiais. E temos de entrar numa nova fase de liderança a nível europeu. Mas acho que quando há vontade, as coisas acontecem”.

Mas alertou ainda: “temos de reduzir as emissões numa altura em que o mundo e a economia precisam de mais energia, e não podemos ir buscar tudo a nova produção. Temos também de ir à eficiência do que já temos. E sabemos que o consumo energético dos edifícios é uma parte muito relevante das emissões, isso cruza-se com a nossa falta de habitação, e tudo vai ser mais difícil. A transição tem de ser justa e não excluir ninguém. Vai implicar esforço por parte das entidades públicas, e precisamos da agilização dos processos”.

Almoço “Diálogo 25 anos de energia”

Neste mesmo dia, a ADENE também promoveu o almoço “Diálogo 25 anos de energia”, em parceria com os Future Energy Leaders Portugal da Associação Portuguesa da Energia.

Foi um encontro intergeracional que juntou três ex-CEOs de referência no setor energético, António Mexia, Nuno Ribeiro da Silva e António Sá da Costa, com 15 jovens profissionais do setor, num momento único de diálogo aberto e construtivo sobre o tema energia e a partilha de experiências entre os participantes.

Participaram ainda nesta iniciativa Ana Paula Rodrigues, vice-presidente da ADENE, António Coutinho, presidente da APE e Bruno Henrique Santos, presidente dos FELPT.

Segundo a ADENE, esta foi uma oportunidade para ligar gerações, visões e perspetivas sobre o futuro da energia em Portugal.

Prémios “Carreira Energia” / “Energy Lifetime Achievement” Awards

Durante o aniversário da ADENE foram também entregues os prémios “Carreira Energia” / “Energy Lifetime Achievement” Awards. Vítor Santos venceu o “Prémio Carreira Energia Nacional”; Domninique Ristori o “European Energy Lifetime Achievement Awards; e Fatih Birol o “International Energy Lifetime Achievement Award”.

Todas as fotografias cedidas pela ADENE
Todas as fotografias cedidas pela ADENE