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Industrialização é via sustentável que “oferece certezas ao investidor”

Industrialização é via sustentável que “oferece certezas ao investidor”

A mão-de-obra e as matérias-primas são recursos cada vez mais escassos. Como resposta a esta adversidade, o setor da construção e dos materiais mostra-se empenhado em acelerar a transição para a economia circular, em ter produções mais eficientes, rápidas e sobretudo sustentáveis.

Será a industrialização da construção uma das soluções para fazer face aos aumentos dos custos e à falta de mão-de-obra, como também para construir de forma mais sustentável? A primeira sessão da Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa, "Economia circular & custos - o futuro da construção!", centrou-se precisamente no debate destas questões.

SICC - uma ferramenta valiosa de benchmark

Vasco Peixoto de Freitas, Professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e José Almeida, Regional Manager & Commercial Director da Confidencial Imobiliário, apresentaram o Sistema de Informação de Custos de Construção – SICC.

O Sistema de Informação de Custos de Construção (SICC) é um sistema de informação desenvolvido pela Confidencial Imobiliário, em colaboração com a Universidade do Porto. Em termos concretos, a plataforma trata-se de um sistema de informação que visa apurar estatísticas de custos de construção, com base na amostragem de orçamentos elaborados para efeitos de financiamento à promoção imobiliária.

Vasco Peixoto de Freitas, Professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Vasco Peixoto de Freitas, Professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

Para Vasco Peixoto de Freitas «dispor destes dados dinâmicos torna-se ainda mais relevante, tendo em conta a conjuntura atual». Esta base de dados é para os «promotores, avaliadores, entidades bancárias, projetistas e empresas de construção», refere Vasco Peixoto de Freitas, acrescentando que o sucesso de uma plataforma de custos de construção «provém da solidez da base de dados». José Almeida atenta ao facto de «o custo de ontem não ser igual ao custo de hoje», sendo por isso «importante termos um referencial com uma base de dados dinâmica e sólida».

A industrialização ajuda-nos na redução dos desperdícios

Na segunda apresentação da conferência, João Crispim, Head of Corporate ESG do Grupo Casais, contextualizou o trabalho desenvolvido pelo grupo, que promete construções alinhadas com economia circular. O responsável frisa que a industrialização «ajuda-nos na redução dos desperdícios, com um controlo de qualidade, condições de trabalho, mobilidade». E, de facto, a construção «faz parte do problema», sendo responsável por 37% do consumo de recursos, de energia, emissões de CO2 e desperdício. Destaca ainda a escolha que o grupo fez pelo recurso à madeira, pelo «baixo carbono, renovável, circular, fácil de industrializar e aumento do bem-estar».

Aposta dos investidores na reabilitação urbana

Na mesa-redonda de debate, Diogo Pinto Gonçalves, CEO da Westport International, atentou para o «grande problema dos promotores» na reabilitação: torna-se «muito mais difícil, porque estamos muito limitados quer no espaço, quer no tipo de materiais. Os próprios edifícios não estavam preparados para ser reutilizados».

Considera que «depende muito do tipo de reabilitação que se faz, se é uma reabilitação intrusiva, naturalmente o reaproveitamento não é o mesmo» Portanto, argumenta que «há quem prefira fazer reabilitação e quem prefira fazer construção nova» e que há soluções de construção nova «que permitem, efetivamente, uma nova utilização do espaço no futuro e o reaproveitamento dos materiais».

A construção nova pode ser realmente o grande caminho

Diogo Pinto Gonçalves sublinha que a construção nova «pode ser realmente o grande caminho», acrescentando que para conseguirmos «fazer uma verdadeira sustentabilidade, quer na reabilitação, quer na construção nova, é necessário fazer alterações profundas nas leis». Diogo Pinto Gonçalves, CEO da Westport International, destacou também qualidade no SICC: a «boa gestão faz-se com números e bons números fiáveis. Quanto mais houver participação de todos os atores económicos neste modelo, melhor será a informação que vamos tirar dela. A tomada de decisão será melhorada, pois vamos basear-nos em números reais e não apenas com o sentido da experiência».

A industrialização é uma oportunidade para dar resposta a um conjunto de situações

De acordo com João Crispim, Head of Corporate ESG do Grupo Casais, «a industrialização vem trazer alguma segurança de vários lados», uma vez que «uma obra que avança com industrialização consegue fixar preços de uma forma que uma obra que não é industrializável não consegue». Assim sendo, reitera que a industrialização «é uma oportunidade para dar resposta a um conjunto de situações», por exemplo, «mitiga flutuações do custo da mão de obra», acrescenta.


A construção modular tem de ser vista como uma construção de futuro e de presente

Na perspetiva de Liliana Leis Soares, Diretora de Marketing do Grupo CIN, a construção modular «tem e ser vista como uma mudança de futuro e presente» e é uma mudança que «tem de começar de dentro para fora». A responsável traz «duas boas notícias»: em primeiro lugar, a escassez de matérias-primas «foi ultrapassada, em meados de 2022, notamos uma maior disponibilização de matérias-primas nos canais de abastecimento, essencialmente por conta de uma diminuição da procura». Depois, a CIN notou uma «estagnação no que diz respeito aos preços», indica.

Carlos Baião Cruz, CEO da Investwood, realça que «nota-se uma mudança nos critérios de seleção dos materiais. As certificações de edifícios e a necessidade da cadeia se ajustar a formas de circulabilidade e sustentabilidade, tem vindo a formatar os processos de decisão em termos da escolha de produtos». Nesse aspecto, Carlos Baião Cruz considera que «a madeira e a cortiça desempenham um papel fundamental, sendo que é incontornável que as soluções de futuro na construção vão ter de passar pela utilização destes dois produtos naturais».

Justifica ainda que «o legislador, um regulador, que trabalha quer na componente do preço, quer na componente estratégica, deve regular, legislar e premiar a construção ou um imóvel que esteja alinhado na perspetiva de melhoria, de otimização da circularidade e na melhoria da pegada de carbono». Acredita que seria «muito desejável, do ponto de vista, se começassem a premiar metodologias e sistemas de construções que caminhassem na maximização da aplicação destes sistemas que levem a esta neutralidade carbónica».

Não estamos a tirar sequer 20% do valor real da cortiça

Miguel Reynolds Brandão, CEO da Corkbrick, revela que a «escolha da cortiça foi perfeitamente empírica e espontânea», todavia considera que «ainda não estamos a tirar sequer 20% do valor real da cortiça». A escolha da cortiça, uma matéria «que nos permite fazer inúmeras aplicações», deve-se ao facto de ser «um natural isolamento térmico e sonoro. É leve e fácil de modular», adiantou Miguel Reynolds Brandão.

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