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Desafio no acesso à habitação exige novas soluções de construção industrializada



                      Desafio no acesso à habitação exige novas soluções de construção industrializada
Sessão “O PRR como oportunidade para a construção industrializada”.

A construção enfrenta desafios estruturais que exigem uma mudança de paradigma. A escassez de mão de obra e a perda de qualidade foram alguns dos alertas deixados por José Rui Pinto, Diretor Técnico-Comercial da KREAR, na primeira sessão da Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa.

Para o especialista, a construção industrializada surge como uma resposta essencial. «Tem de haver uma mudança de mentalidade, caso contrário, não atingimos os nossos objetivos», sublinhou, reforçando a necessidade «trabalharmos a montante, com planeamento». A construção industrializada «tem de ser transformada numa nova forma de construir», acrescentou. Entre as vantagens deste modelo estão a maior rapidez e eficiência, o controlo de qualidade, a sustentabilidade e a previsibilidade dos custos, tornando-se uma alternativa cada vez mais relevante para o futuro da construção.

Na mesa-redonda de debate da sessão “O PRR como oportunidade para a construção industrializada”, moderada por Miguel Franco, Co-CEO da Schmitt + Sohn Elevadores, um conjunto de especialistas analisaram os desafios e oportunidades em torno da industrialização da construção e das intervenções do PRR.

Filipe Caçapo, Diretor do Departamento de Governação e Transferência de Competências da Câmara Municipal de Loures, sublinhou que «já está a chegar ao terreno a execução do 1.º Direito e o acelerador PRR nas intervenções. As pessoas já começam a sentir o impacto dessas intervenções nas câmaras municipais». Contudo, embora o PRR seja um instrumento essencial, «não vai responder à totalidade das carências de habitação existentes no país. Estas intervenções deveriam ser mais abrangentes, existem muitas necessidades de intervenção para além do PRR», afirmou Filipe Caçapo.

O principal problema é o tempo

O representante do município de Loures considera que «o principal problema é o tempo, uma vez que o PRR tem prazo estipulado. Por isso, qualquer solução, do ponto de vista da construção, que seja mais rápida e económica, mas que cumpra os requisitos de sustentabilidade e eficiência energética, constitui um contributo muito relevante para a concretização desta grande empreitada que é o PRR».

Ao ser questionado sobre se a legislação acompanha as tendências da industrialização, Filipe Caçapo afirmou que «tenta acompanhar as questões da industrialização, mas demora o seu tempo a adaptar-se, pois é algo novo. Na autarquia, procuramos acelerar todos os processos de licenciamento de novas construções e de reabilitação, dentro dos limites da legalidade».

José Rui Pinto, Diretor Técnico-Comercial da KREAR, partilhou a sua visão sobre a situação do setor em Portugal e o impacto da industrialização, referindo que «infelizmente, estamos na cauda. O português gosta de pensar e pensar, e demora a executar. Se formos para Espanha, já deram um grande passo. Eles agem, cometem erros, têm patologias nos estudos, mas depois corrigem. Isto não quer dizer que nós não vamos fazer obras, demoramos é sempre mais tempo. Mas hoje temos de importar esse tempo pela necessidade».

O responsável reforça que «estamos atrasados, mas vamos ser obrigados a correr mais rápido do que anteriormente. Temos pouco tempo até junho do próximo ano», afirmou. Alertou ainda para a escassez de empresas capazes de aplicar a industrialização de forma eficaz: «Ainda existem poucas empresas que consigam fazer a industrialização. O que me parece que vai acontecer? Vamos fazer uma industrialização manca».

Escassez de mão de obra qualificada é um dos maiores entraves

Manuel Brites, CEO da ECOCIAF, trouxe à discussão os fatores críticos que estão a dificultar a construção rápida e eficiente. A escassez de mão de obra qualificada é um dos maiores entraves. «Os principais fatores são a escassez de mão-de-obra qualificada, que, face ao volume de construção necessário, se agrava ainda mais. Temos de criar mecanismos que facilitem a entrada de mão-de-obra externa», afirmou.

O responsável pela ECOCIAF enfatizou a necessidade de uma maior celeridade nos processos de construção: «Há que criar condições que permitam construir de forma mais rápida. As condições para isso existem, agora só têm de agilizar este processo», acrescentando que «a cedência de terrenos a preços com custos mais controlados seria também uma das soluções». 

Por outro lado, Gonçalo Martins, Administrador da Perfisa, evidenciou que «é necessário modernizar os processos construtivos. A industrialização da construção reduz o desperdício e ajuda-nos a depender menos da mão-de-obra especializada, que está cada vez mais escassa». O responsável enfatizou ainda que «nenhuma empresa é uma ilha. A maior parte destas medidas vai precisar de um apoio forte na cooperação». Defendeu também que «este tipo de lógica construtiva off-site merece uma redução do IVA na construção».

Com uma construção industrializada, «teremos menos desperdício, menos falhas e menos atrasos na execução da empreitada. Tudo isso se traduz em menos custos indiretos. A industrialização permitirá casas mais acessíveis. No entanto, isto é um processo. Vários players terão de contribuir», inferiu Gonçalo Martins.

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