Sustentabilidade é condição para empresas competitivas e resilientes

Uns avançam mais do que outros, mas há consenso no mercado de que a sustentabilidade é uma necessidade e mais-valia. Neste tempo, «investir ou não em sustentabilidade é a diferença entre uma multinacional olhar ou não para um edifício», garante a Savills. A sustentabilidade está na ordem do dia, é necessária para que o nosso planeta seja mais sustentável no futuro, como um todo. E o setor imobiliário está cada vez mais alerta para isso. Ainda que haja um longo caminho pela frente, já é claro que empresas competitivas e resilientes terão de ter a sustentabilidade como prioridade. O imobiliário mais sustentável foi tema do mais recente Pequeno-Almoço Conferência da Vida Imobiliária, que decorreu em Lisboa a 17 de abril, em parceria com a Schneider Electric e com a Savills Portugal. Reunidos na nova sede da consultora em Lisboa, os especialistas concordaram que a preocupação com a sustentabilidade reúne consenso no mercado. Para Paulo Silva, Head of Country da Savills Portugal, «estamos num contexto em que a preocupação económica vai ao encontro da preocupação ambiental». Mas teme que o esforço económico possa ser superior no futuro, se as medidas não começarem a ser tomadas desde já: «vamos ter medidas bastante ingratas no futuro. Ainda estamos num caminho fácil, mas temo que isso possa acontecer». Acredita que o Planeta deve ser visto «como um veículo emprestado, que vamos deixar aos nossos filhos e aos filhos deles». De qualquer das formas, hoje os investidores estão mais do que atentos à necessidade de ser sustentável. «Investir ou não em sustentabilidade é a diferença entre uma multinacional olhar ou não para um edifício. Hoje, isso faz mais diferença nas decisões do que aquilo que deixamos para as novas gerações. E os investidores estão preocupados com décadas à frente, com questões relacionadas com leito de cheias, por exemplo». Nuno, Fideles Head of Sustainability da Savills Portugal, lembra que «no início do nosso departamento de sustentabilidade aqui na Savills, não encontrávamos sensibilidade por parte das empresas, e agora são elas que dizem que não vão para o edifício se ele não for sustentável, energeticamente eficiente, mas também com condições para que as pessoas se sintam confortáveis em ir trabalhar». A Ageas é exemplo disso. «No grupo Ageas, temos sempre a sustentabilidade como premissa. Já estamos habituados às elevadas exigências de sustentabilidade da Bélgica, vamos ter certificação BREEAM Excelent na nossa sede em Lisboa, e estamos nesse processo também no Porto. De acordo com a nossa política interna, qualquer novo edifício e investimento tem de ter certificações de sustentabilidade», explica Ricardo Medeiros, Construction & RE Manager - Grupo Ageas Portugal. Cristina Oliveira, Diretora de Programa & ESG – VIZTA, não tem dúvidas de que «é-nos exigido a todos encontrar soluções viáveis para que possamos transpor essa necessidade de sustentabilidade para o nosso dia-a-dia. Nós temos de pensar na sustentabilidade desde o nascimento dos programas, ao desenvolvimento dos projetos e depois na construção, que permita esse retorno da sustentabilidade no dia-a-dia dos nossos clientes depois de entregues os produtos». Nuno Fideles identifica que «os vários stakeholders estão a encontrar pontos comuns e há um caminho claramente traçado para trazer a sustentabilidade para o ramo imobiliário. Construtores, promotores, projetistas estão a procurar um caminho para a sustentabilidade». E Cláudio Costa, responsável Promotores Imobiliários e Arquitetos - Schneider Electric, confirma que «estamos a caminhar para o mesmo objetivo». Tiago Carrilho, Head of Sustainability do BCSD Portugal, destaca que «as empresas que quiserem abraçar a competitividade e a resiliência terão de ter a sustentabilidade em conta na aquisição e gestão dos seus edifícios, para conseguirem recolher esse valor de uma forma estratégica, seja ao nível da gestão de risco no futuro, seja ao nível da competitividade. Para a União Europeia, isto vai refletir-se ao nível do “report” que vai ser exigido», inclusive à banca. Reduzir o consumo dos edifícios é fundamental Compensar a pegada carbónica, incorporar a natureza nos imóveis ou otimizar o consumo hídrico são medidas importantes e sonantes, mas o essencial passa por reduzir a energia que já se gasta, nomeadamente aquela que é consumida pelos edifícios. Nuno Fideles lembra que «não nos interessa que Portugal continue a ter energia mais renovável se “à volta” continuarmos a ter energias menos renováveis e se não trabalharmos os nossos edifícios para que consumam menos energia. Temos de os monitorizar, e perceber como usamos a energia, tenha ela a origem que tiver». Ou seja, tudo pode ser medido, controlado e, assim, reduzido nos edifícios: «só assim podemos mais tarde ter bairros e edifícios mais autossustentáveis. E estas gestões têm custos, mas, com a sua massificação, eles vão reduzindo e já sabemos isso dos últimos anos», garante. Mas Tiago Belo, Chief Operating Officer - Solyd Property Developers, recorda que, ainda antes de reduzir consumos, é necessário dar conta da «grande pegada carbónica da construção, ou seja, antes da utilização do edifício. Muitas coisas podem ser feitas para contornar isso, não só usar menos betão. Toda a produção e conceção tem de ser pensada». Industrialização da construção tem de vencer a resistência à mudança A industrialização da construção é cada vez mais apontada como um caminho para construir mais sustentável, mas nem sempre é óbvio se este tipo de construção é mais barato que o método tradicional. Cristina Oliveira dá conta de que os empreiteiros «reportam-nos sempre que a construção convencional é mais económica, mas nós continuamos a insistir». E, no caso da promotora, «o nosso público, o segmento médio, pede-nos valores mais baixos, e o equilíbrio ainda não existe, porque ainda é muito caro fazer pré-fabricação, face ao convencional. Mas estamos a apostar na pré-fabricação da tipificação, de casas-de-banho, por exemplo, que já permite algum retorno em termos da execução da mão-de-obra». Tiago Belo nota que «há um status quo instalado na construção e uma grande resistência a fazer diferente do que se faz há 50 anos». Mas o que é certo é que a industrialização permite «mais controlo de qualidade, desperdícios mínimos, porque podemos otimizar tudo, os cerâmicos, cabos, tubos, tudo é de tal maneira estandardizado que é possível fazer tudo de outra maneira». Considera, por isso, que quando se diz que a construção tradicional é mais barata, falta nesse cálculo «uma grande panóplia de gestão, custos, erros, tempo, risco, que não contemplam. Isto é um processo». Há mais sensibilização a fazer do lado do cliente Se é certo que os investidores estão cada vez mais sensíveis para a necessidade da sustentabilidade, o mesmo não é ainda verdade com o cliente final. Tiago Belo confirma que «nem sempre o cliente final tem a mesma perceção do investidor». E, no caso da Solyd, «não estamos a fazer classe energética “A” porque o mercado quer, mas porque entendemos que devemos. Hoje, o cliente é mais preocupado e sensibilizado, mas o nosso segmento de mercado tem limitações de ticket». Nota também que, na experiência da Solyd, o cliente final «começa a ter mais consciência e perceção [do imóvel] na sua utilização, e não necessariamente no momento da compra». Cristina Oliveira afirma que, hoje, «o cliente não pergunta. Cabe-nos a nós explicar os benefícios de poder habitar determinado edifício. Quando terminarmos os nossos projetos daqui a dois anos as pessoas estarão muito mais atentas do que agora». Hoje em dia, já é possível ter uma casa inteligente, mas também ainda não é uma prioridade para os clientes. Cláudio Costa identifica que «ainda existe muito o conceito antigo da domótica, mais vocacionado para o conforto do que para a sustentabilidade». E porque a tecnologia pode ajudar a ter uma casa mais sustentável, «por isso estamos a mudar um pouco o paradigma». E exemplifica que «uma simples gestão de estores de forma mais eficaz pode fazer muita diferença». Seja como for, acredita que «daqui a poucos anos vamos estar num patamar diferente, temos de ir pensando as coisas a médio-prazo». E Cristina Oliveira dá o exemplo da VIZTA: «vamos deixar os edifícios preparados para os clientes poderem instalar o que entenderem no futuro».

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